Honra em sangue.

Miya atenciosamente obedecia Heylel, quase fazendo o que lhe era ordenado de maneira automática, mas seu pequeno e frágil corpo congelou naquele momento, enquanto sentia o aço frio do metal em suas mãozinhas trêmulas. Sua mente havia travado por completo, e olhos olhos arregalados denunciavam medo, horror.

Encarou Heylel com uma expressão que quase implorava para que ele risse da situação e falasse que aquilo era apenas uma brincadeira. Como Miya poderia atirar naquele homem? Ele apenas estava tentando o melhor por sua raça, e a vida naquela prisão não parecia de tudo tão ruim... E ainda recebiam pelo próprio trabalho.

Não, isso não era verdade. Mesmo que Miyano tentasse pensar dessa maneira, o homem de mais cedo não parecia usufruir daquela vida. Seriam todos ali criminosos?

Miya era uma criança, por que ele ao menos deveria estar ali? Para eles, isso não importava, e Maya também estaria sendo forçada a trabalhar se tivesse vindo com o Heylel, e essa possibilidade, sustentada pelo sussurro do diabo de Heylel, parecia alimentar a motivação da criança em puxar o gatilho.

Seria hipocrisia se não o fizesse, afinal, matara outros homens por bem menos.

Observava o Okro, apenas conseguindo sustentar a arma em suas mãos trêmulas graças ao auxílio de Heylel, que dispunha da força suficiente para não deixá-la cair.

"Puxe o gatilho, querido, esse será o primeiro de muitos", lembrava da voz de sua mãe no dia em que seu pai fora lhe ensinar a caçar pássaros. Akemi estava sentada na grama verde com Maya em seu colo, enquanto ambas acompanhavam o voo do pássaro que estava sobre a mira do garoto.

"Você consegue, Miya", a voz de Ellora parecia condizer com a mesma fala de seu pai no flash back, quase hipnótica.

Cerrou os olhos, tentando focar a visão, mas, quanto mais mirava, menos coragem tinha de puxar o gatilho, novamente deixando todo o corpo estremecer em pavor.

"Não pense muito, filhão, apenas puxe o gatilho.", lembrou do conselho de seu pai, apesar de ser referente ao equilíbrio da criança. Quanto mais você mirasse, mais hesitante o tiro tendia a ser. Mesmo um arqueiro profissional poderia errar feio em um mísero instante de hesitação.

O que seus pais diriam se soubessem que o filho havia se tornado um assassino?

Aquela arma realmente seria para se defender?

Como Heylel era capaz de puxar o gatilho tão facilmente, e, além disso, como Ellora parecia a favor dessa ideia?

Uma contradição de pensamentos se confrontavam na cabeça da criança.

"Miya, você pensa demais", ainda no flash back, lembrou-se quando Maya pegara a arma das mãos do irmão, atirando no pássaro. Mesmo Maya havia confortado-o quando matou aqueles homens na nave.

"Atire", dessa vez pensou ter ouvido a própria voz, como se sua consciência já houvesse tomado a decisão antes mesmo de Miyano. E, antes que a própria mente percebesse, seu dedo já havia puxado o gatilho.

Agora era tarde demais para mudar de ideia.

*Heylel estava ali a todo o momento conferindo as reações e expressões de Miyano que impressionantemente ficava mais confiante com seu ato, era como se aos poucos, apesar do medo, ele ficasse motivado a seguir com sua ação já que mesmo tremendo seu olhar não desviava, muito pelo contrário, se afiava*

-Isso garoto... *Sendo ele o responsável pelo disparo, toda a habilidade era sua e não a do menino que ainda era pequeno demais para portar uma arma tão grande, mas aquele era só o primeiro passo de muitos rumo uma vida longe do falso comodismo que tal seguiu enraizado, agora estando com o assassino e não debaixo da asa de uma hacker, aquele garoto seria muito mais do que apenas uma criança dependente de proteção, seria ele o protetor, era só questão de tempo e esse tempo encurtou com aquele disparo onde agora os dois albinos junto a mestiça Zathriana esperavam o resultado*

Quatorze está distraído com as águas correntes do mar de Eremoyuu, conhecido por tantos nativos como "O Mar Que Engole Esperanças" devido a seu alto nível de acidez em comparação com o resto do planeta. Agora, aquele mar sustenta uma pequena ilha que significa a pequena esperança de um grupo. Uma esperança de que um dia Tuntau seja maior do que todos aqueles que a oprimiram.

Num gesto questionável, ele a parte superior de sua armadura e abre mais a janela. Em uma atitude questionável, estica-se o máximo que pode para apanhar um palmo daquela água ácida e atira contra o próprio peitoral. O líquido obviamente causa queimaduras, mas não é capaz de perfurar sua pele por conta da resistência natural da raça. A julgar por seus olhos se fechando com força, porém, a sensação é de dor absoluta.

Esse é o poder do orgulho dos Okros. Independentemente do risco, lutarão com todas as suas forças pela raça que foi subjugada pelo próprio planeta natal. Só sua existência naquele ponto já é uma vitória. E é por isso que o ódio é tão grande contra os alienígenas: eles sabem que seriam capazes de sobreviver a Tuntau sozinhos.




Talvez ele tenha olhado para cima no momento certo, talvez tenha ouvido algum som - não importa. A única coisa que é certa é que um segundo salvou-o da morte.

Seu primeiro reflexo foi abaixar-se no parapeito onde apoiava-se e avisar os outros que um rifle era mirado ali. Com os Okros insistentemente tentando em vão contatar aquela torre, é óbvio para todos que ela foi tomada pelos prisioneiros.

—  A torre oeste foi tomada e a torre leste ainda não foi substituída. Todos preparem-se para agir! — Ele exclama em seu rádio e a mensagem é refletida no comunicador da torre onde o pequeno grupo está.

Rapidamente, a situação se agilizou. Os soldados que antes falavam com Nelai entram na instalação temendo os tiros e deixam a porta aberta para que ela se proteja também, mas não podem mais manter seus olhos nela. Está sem dúvidas fora da visão do inimigo.

Enquanto isso, atiradores se posicionam para tentar abater os prisioneiros ali. A instalação tem poucas armas, então apenas dois se prontificam imediatamente.

*O tiro havia sido praticamente certeiro, todavia, o critico instinto daquele soldado falou mais alto o fazendo olhar para a dupla que mirava nele e então sair da mira dos dois fazendo o projétil passar por ali por muito pouco para felicidade de Heylel, sim, ele não estava frustrado, muito pelo contrário*

-Bom trabalho Miyano, nosso inimigo é mais ágil do que pensei, mas não tema, apenas observe mantendo a atenção, veja. *Foi movendo devagar a mira com o menino de olho através da lente para que ele pudesse ver os inimigos se movendo e se colocando em posição, assim sendo, todo o dito do rebelde ocorria durante essa movimentação*

-Eles estão se movendo prontos para atacar, perceba que eles não ligam se tem mulheres ou crianças aqui, apenas querem cumprir o que acham certo que é proteger o que deve ser protegido mesmo que seja preciso matar no processo e isso vale para nós também que temos o mesmo objetivo, proteger nossa família e destruir o que for necessário, e seja nós ou eles, alguém vai falhar nessa missão... Que seja eles, temos que voltar pra Maya. *Apontou a arma para um dos que seguia se prontificando para enfrenta-los o esperando ficar dentro da mira e ao ficar ele sorria satisfeito ao perceber alguns detalhes a mais daqueles Okros*

-Na mira, atire! *Depois do tiro ele na sequencia pegou Miyano pela cintura e o desceu da cadeira, mesa, o que for que ele estivesse sobre e o colocou no chão se abaixando em seguida buscando cobertura abaixo do parapeito daquela janela*

-Agora a situação vai ficar perigosa então eu cuidarei dela, hoje sou eu que irei protege-lo junto a Ellora, mas no futuro quem estará protegendo será você e até mesmo sua irmã, juntos lutando por um mesmo prol, hoje foi apenas o primeiro passo e quando sairmos daqui daremos muitos outros passos onde no futuro você estará no meu lugar protegendo o que é importante para você. *Retirou de dentro do sobretudo uma espécie de estojinho de maquiagem redondo do qual apertou um botão expondo todo aquele pó, pincel e etc muito bem organizado e limpo, era impressionante o quão cuidadosa Nelai era, mas isso não era o importante e sim o espelho contido na tampa do objeto que ele usou para erguer acima do parapeito e enxergar o que estava por fora sem colocar a cabeça arriscando levar um tiro*

-Infelizmente, no mundo atual que estamos essa é a unica forma, é preciso apertar o gatilho sem hesitação pois caso hesite algum ente querido pode sofrer as consequências, então seja forte Miya, se livre de suas amarras e de seus medos e proteja aqueles que ama com sua própria força.*Deixou o rifle em pé abraçado a um de seus braços e seguiu monitorando a situação com o espelho e notando que os Okros apenas se moviam esquecendo a ponte estendida e Nelai, buscou se comunicar com ela aproveitando o momento*

-Essa é sua chance, se mantenha do outro lado infiltrada, eu distraio os imbecis e você procura uma forma de sairmos daqui... Ellora, me de cobertura se concentrando no suporte. *Notando que a situação estava "limpa", o Kroyvisiano se ergueu novamente ja mirando na cabeça do mesmo alvo do qual tinha disparo com Miyano -se ele tivesse morrido, vai que, atiraria no segundo alvo-. Era notável que o rebelde sempre mirava na cabeça de seus alvos para buscar sempre matar com um tiro só*

*A mestiça respirava fundo quando o tiro era disparado, com ela torcendo para que tivessem acertado pelo menos um dos guardas, embora a julgar pelas palavras dele para Miyano, não tinham conseguido acertar.
Ela suspirava e podia ouvir os adversários se movendo lá fora, na certa prontos para revidarem e impedirem eles de fugir.
Continuava abaixada e dava um beijo na testa de Miyano, murmurando.*

- Você foi muito bem Miya, eu entendo o que provavelmente deve ter sentido, porque desde o começo me perguntava se estava fazendo a coisa certa quando tinha que atirar também. Mas depois... percebi que as vezes, pra salvar quem amamos e protegemos, temos que escolher entre o que é certo e a sobrevivência.

*A mestiça logo sorria de uma maneira gentil para Miyano, agora o colocando atrás dela lhe mostrando que o protegeria de qualquer coisa, enquanto ia auxiliar Heylel, dizendo para que a criança a escutasse.*

- Sobrevivência daqueles que amamos e que são importantes para nós, você não está sozinho Miya, tem a gente aqui com você...

*Logo Ellora estava ao lado de Heylel embora se mantivesse abaixo do parapeito da janela para não correr o risco de ser atingida, mas já dando para perceber que a mestiça se concentrava, deixando com que sua energia fosse chamada e se envolvendo com ela, dando para sentir um pouco de sua manifestação mesmo que não fosse visível aos olhos no momento.
Ela se mantinha atenta e com a guarda alta, se perguntando se dessa vez teria que acabar ajudando Heylel não só na cura, mas também nos tiros.*

Os dois atiradores posicionam-se um de cada canto da instalação, a fim de tentar encontrar um ponto cego na visão do atirador misterioso que tomou a torre de observação. Um deles, porém, é alvejado antes que possa ter reação.

O primeiro tiro atinge em cheio seu ombro e causa uma dor aguda e instantânea, que enfraquece sua empunhadura e o faz soltar a arma que cai no mar ácido do local. O reflexo natural do corpo, porém, faz com que se mexa e atrapalha a mira de Heylel. O segundo tiro, portanto, atinge-o somente de raspão.

Não é o necessário para abatê-lo, mas claramente o debilita não só fisicamente mas também faz com que perca seu próprio rifle. Um único atirador agora está habilitado a abater Heylel. Ele agora distrai-se enquanto tenta colocar curativos no ferimento que só não sangra por conta da pele resistente da raça, mas claramente dói.

Dois tiros evidenciam sua posição, atrás de algumas docas. Ele está ciente da estratégia do ciborgue e portanto mira em seu braço visível. O ferimento não poderia ser letal, mas quem sabe não o debilitasse e abrisse brecha para que mais soldados avançassem pela ponte e parassem o tiroteio.

A ação de Kitty não sai despercebida. Quatorze, que tentava apresentar os objetivos daquela causa para ela, nota a fuga e, quase que por instinto, vai atrás dela. Seu tempo para colocar sua armadura, apenas numa tentativa desesperada de impedir que ela seja pega no fogo cruzado.

— Ei! — Exclama enquanto tenta alcançá-la. — Onde você vai? É perigoso nessa direção!

Agora os dois estão expostos na ponte que conecta Kakhaluto à baía. Quatorze, que até então se mostra líder do local, expõe-se de maneira totalmente imprudente para tentar "salvar" a recém-conhecida, tudo por causa da irmandade que se forma entre os nativos perante a tanta opressão que precisam passar.

Depois do barulho alto do disparo, palavra alguma adentrava a mente de Miyano, que estava em estado catatônico depois de se dar conta que apertou o gatilho.

Desejou mais que nunca que não pensasse tanto, especialmente para parar de se sentir culpado. Além de ter atirado no Okro, o havia deixado sair vivo. Se não fosse por sua hesitação, não teria colocado o grupo todo em perigo.

Aquela hesitação uma hora custaria a vida de Maya, e qualquer coisa que colocasse a vida dela em risco deveria ser eliminada.

Agora entendia por que Heylel tanto insistia para que a criança perdesse a covardia.

Heylel estava certo, e Miyano deveria parar de pensar tanto naquele assunto.

Heylel estava certo.

O Okro era uma ameaça.

E ameaças deveriam ser eliminadas.

Não seria muito útil pela pouca experiência em combate, mas poderia confundir os Okros quanto a posição do homem, por isso tentou invadir um dos computadores primitivos do local. Mesmo que não fossem tão úteis, ainda serviriam para fazer barulho, e bastante barulho.

Depois de amarrar o computador em uma cadeira de rodinhas com fita isolante, a criança cobriu a geringonça com seu lençol para que, ao menos ao longe, se assemelhasse com uma figura humana.

Já sabiam da posição de Heylel, mas e se pensassem que ele havia se movido de local? Poderia fragilizar ainda mais a defesa daqueles Okros.

Mesmo que não conseguisse fazer barulho de imediato, ao menos o movimento do mecanismo poderia servir de isca. Invadindo o equipamento, apenas restava ver se o plano funcionaria ou não.

Depois de findar a distração, a criança chutou a cadeira, fazendo com que ela atravessasse o corredor com velocidade.

Por fim, retirou sua pistola de debaixo da blusa, na região terminal do suspensório. Esperava nunca ter que usar aquilo, mas algo lhe dizia que futuramente a arma se tornaria sua melhor amiga.

E, para celebrar sua nova amizade, decidiu dar um nome à pistola.

- ...Hela. - Murmurou, fora de contexto, enquanto encarava a arma com um olhar vazio. Não parecia confortável com nada daquilo, mas parecia determinado. Melancolicamente determinado.

*Ouvindo os ditos de Nelai pelo comunicador, Heylel seguia observando a movimentação dos demais como podia, só que graças a deus narradorsó havia espaço para dois franco-atiradores por vez de onde estavam, assim era bom, quem sabe poderia dar conta colocando em pratica os ensinamentos de sua mãe com armas de precisão*

-Okro de cabelos verdes é? Então é ela mesmo *A mulher só podia ouvir o som do sorriso se formando, este que se provou bastante sádico e satisfeito não dando para saber se era pela noticia daquela Okro diferente ou do sucesso que havia tido em desarmar um de seus inimigos que agora teria que sair dali para lidar consigo, ou não, sua arma poderia ainda ser substituída*

-Continue observando, em dois em dois eu consigo! *O tiro então veio em cheio no seu ombro fazendo seus passos vacilarem para trás fazendo o sangue voar sujando sua bochecha, boa parte dela, e pingando alguns em Ellora e Miyano que estavam próximos. Chegou a deslizar a língua entre os lábios os umidecendo depois daquilo como se estivesse demostrando satisfação na dor que sentia expondo assim um de seus maiores defeitos... O fascínio, quase delírio por morte e guerra*

-Opa, você não! *Mirou e atirou em Kitty, mais precisamente no chão a sua frente para faze-la parar sua corrida e do alto da torre a olhava de cima; aquele olhar com o cara suja de sangue e expressão maliciosa poderia causar um certo desconforto naquela mulher que entre todos eles seria a mais "pacifista"*

-Eu sempre soube que você tinha um passatempo misterioso Kitty! Mas eu nunca iria adivinhar que ele estava relacionado ao sequestro e escravização de mulheres e crianças! Parece que realmente todos tem seu lado negro não é mesmo?! Parece que é hoje que vamos resolver aquela nossa pequena pendencia de anos, não é mesmo?*Como Quatorze estava vulnerável e desarmado, mirou nele aproveitando daquela facilidade por mais que agora com seu ombro danificado o coice poderia prejudicar em sua mira. Após o disparo outro veio quase que em seguida em seu rosto raspando na parte que estava limpa, ele então tocou o ferimento sujando os dedos e observando aquilo com atenção ainda sem deixar de sorrir*

-Parece que isso vai ser mesmo divertido. *Ouviu certas movimentações e olhou para trás de relance vendo que Miyano estava aprontando algo, então se abaixou buscando cobertura assim nem ele nem seu atual adversário poderiam se acertar, mas claro, voltou a usar o espelho novamente para seguir enxergando para ver se ninguém mais iria cruzar aquela ponte pronto pro mano-a-mano*

-Ellora, por favor, será que sua cura é mais efetiva de perto? *Apesar dos traços visíveis de "insanidade" daquele Kroyvisiano, ele estava agindo racionalmente encarando a mestiça sem demonstrar nenhum perigo a ela ou a criança, era como se tivesse mudado da agua pro vinho, ou só tinha se acalmado mesmo buscando entender o que seu afilhado estava fazendo, inclusive, ao ve-lo com a pistola em mãos a encarando daquela forma, imediatamente lembrou de si mesmo e o afagou o topo da cabeça*

-Você vai pegar o jeito garoto... *Sorria uma vez mais o que era bizarro, nunca até então aquele albino havia sorrido tanto em tão pouco tempo, sem duvida alguma o prazer de uma verdadeira batalha, de estar frente a frente com a morte podendo matar ou morrer enchia seu corpo com uma adrenalina diferenciada*

*Ellora olhava para Miyano por um breve momento, se perguntando o que a criança estaria planejando e ao vê-lo com a própria arma, suspirava baixinho, embora compreendesse que o menino estava entendendo algo que ela tinha aprendido desde cedo também.
A mestiça ficava observando enquanto por dentro se sentia mais aliviada quando notava que pelo menos o tiro havia conseguido pegar nos adversários, suspirando mas logo a sensação passava, dando lugar a preocupação quando sentia e via o sangue de Heylel espirrando nela e em Miyano.
No entanto, ela já estava acostumada com situações até piores do que aquela, não perdendo a calma que possuía e murmurando, enquanto se inclinava para frente, estendendo a mão para tocar em Heylel do lado que estava ferido.*

- Espero que sim...

*Aproveitava que já havia deixado sua energia meio que preparada, e se concentrava, agora a enviando para Heylel e o envolvendo com uma aura sutil, porém, que daria para ele perceber no poder espiritual sendo transmitido para ele, como se agora a cura viajasse por todo o seu corpo, buscando onde estavam os ferimentos que precisavam ser curados o mais rápido que ela conseguisse.*

O atirador que atingiu Heylel é um exímio caçador pronto para abater sua caça. Após o limite de dois tiros do rifle (que também é o mesmo que o ciborgue porta), ele aperta um compartimento na lateral da arma e isso libera todo o calor interno excedente desta. Depois de alguns segundos ele fecha novamente o compartimento e o rifle está pronto para ser usado mais uma vez.

O gesto já é quase automático e bastante comum para o experiente atirador de elite. A única coisa que ele não contava, porém, era o rápido movimento na torre de observação que imediatamente o alerta e, por reflexo, faz com que atire duas vezes na sombra esbranquiçada.

Atingiu em cheio a armadilha de Miyano e nem sequer percebeu. Antes que se desse conta, precisaria esfriar seu rifle novamente.

Enquanto isso, Quatorze alcança o braço de Kitty e suplica para que retorne a segurança, arriscando a própria vida no processo. O que ouve, porém, o surpreende.

— R-Render... você? — Ele parece confuso. — Como vou fazer algo assim com uma "irmã"? Não posso apontar minha arma para alguém que compartilha minha história.

Ele entende que ela não é uma garota perdida como alegou ser. Mais digno que proteger alguém da própria raça, porém, é confiar nas palavras de um irmão. É por isso que ele atende o pedido e, gentilmente, passa seu braço pela região da clavícula da Okro e a pressiona contra seu corpo, ao mesmo passo que ergue, de maneira titubeante, a sua arma até a região da cabeça da rebelde.

Tuntau:

Celes pode talvez prejudicar-se ao pousar com as nuvens esverdeadas do planeta que talvez atrapalhem sua visão. Isso somado com o fato de estar distante do único porto que existe no planeta torna o pouso bastante arriscado e possivelmente perigoso se não fosse realizado por uma piloto experiente como ele.

Ao longo do caminho, Ene foi capaz de detectar a carga da nave e analisar seu computador central. O veículo transporta basicamente minerais polidos, ferro e outra sorte de matéria prima. Quanto ao computador, é realmente bastante primitivo, cumprindo apenas as funções necessárias para um entregador.

Quando enfim pousa, se vê próxima ao local onde tudo está acontecendo. Um tiroteio entre um vilarejo fortificado e uma instalação acontece, mas ela não pode identificar os elementos.

*Ao perceber o super-aquecimento da arma depois de dois tiros, Heylel que já havia executado 4, 2 em seu alvo do qual feriu, com um na frente de Kitty em quatorze acabou percebendo que o ultimo disparo falhou antes mesmo de alcançar seu alvo, aquela arma tinha mesmo certa limitação então se dispos a carrega-la demorando um tempo maior que o caçador que era seu inimigo, afinal, estava descobrindo ainda como usar diferente do outro, o que deu um tempo de recarga igual para ambos*

-Eu estou de um lugar alto e armado, e adivinha só, testa de pedra! *Esperou que a Zathriana curasse de suas feridas buscando manter a calma para ter o foco necessário para aprender a atirar com aquele rifle de caça que estava sendo simplesmente um porre por causa do coice, realmente aquela arma era para ser usada em caçadas mesmo e não em conflitos humanos*

-Obrigado Ellora, agora descanse para recuperar energia que lá vem mais. *Notou os dois tiros e agora conseguiu entender o que Miyano tinha feito, deixou até escapar um "boa garoto!" e se levantou de novo para atirar em seu alvo que provavelmente agora estava distraído recarregando sua arma, todavia, a visão o fez travar e não simplesmente atirar direto*

-Mas que merda é essa?... *Então Kitty não estava contra si? Merda, parecia ter entregado o jogo, agora eles sabiam de que lado ela estava e isso era mal e pior que isso era a sensação que tinha por ter desconfiado de uma amiga de longa data, chegou a pedir desculpa para ela em silencio*

"-Droga, eles vão matar ela, ele está muito perto e eu ainda não sei atirar bem com esse rifle..." *Olhou para Miyano e para Ellora logo atrás de si, não podia arriscar a segurança dos dois e por agora apenas ele tinha sido visto. Não podia arriscar a vida da Okro, ela era parte de sua família no final das contas, então soltou o rifle e o chutou para trás para a mestiça que seguia escondida com a criança*

-Eu me rendo, solte ela Okro! Ela não tem nada a ver com isso, não faça nenhuma besteira! veja, estou desarmado... *Apenas metade do seu corpo para cima estava exposto por estar atrás de uma pequena janela no topo daquela torre, então para evidenciar seu desarmamento -por mais que tivesse as pistolas na cintura-, Heylel ergueu suas mostrando estarem totalmente vazias de fato*

- De nada, fico feliz que dessa vez tenha dado certo, ahn.. pera.. o que?

*Ellora parecia um pouco cansada, demonstrando que pelo jeito havia usado um pouco mais de energia dessa vez, mas ainda assim mantinha uma expressão animada na face, suspirando de alívio quando via que a cura tinha funcionado.
Ela sorria e logo utilizava novamente sua energia espiritual, mas dessa vez começando a meditar ali mesmo, iniciando uma cura própria agora enquanto escutava o que ocorria lá fora e arregalava os olhos ao ouvir a voz de Heylel, e as palavras dele sobre rendição.
Mesmo meditando e sentindo suas forças irem voltando aos poucos para ela, Ellora estava confusa e quando o rifle era passado à ela, a mestiça o segurava sem entender muito bem, acabando por murmurar, enquanto posicionava melhor a arma.*

- Eu não entendi isso mas.. você disse pra confiar em você, então é o que vou fazer. E proteger o Miya...

*Ela tinha achado a ideia de Miyano realmente brilhante, aprendendo um pouco mais da inteligência do menino, e logo voltava a meditar, esperando para ver o motivo da mudança repentina de Heylel, e claro, pronta para proteger o albino e a criança de qualquer forma.*

Quase dei com a cabeça nos controles ao ver que eu estava presa a uma lata velha. Eu não precisava de espaço. Não quando voltei a ficar sozinha. Resmunguei sobre sentir falta da minha nave, mas me contetei.

¬ Hana. Estamos fudidas. Não tenho condições de comprar coisa melhor e meu irmão muito menos vai me dar algo.

"Claro, você está morta. Não podia pegar a grana e morrer depois?"

Abri a boca para mandar a I.A a merda. Mas ela estava certa. Então apenas fiz um bico e apertei o botão do comunicador.

¬ Chuchuzinho? Você está vivo?

Fiquei dividida entre morrer de vergonha ou de preocupação. A frase saiu de forma banal, mas a possibilidade real me fez mal.

"Você poderia terminar suas falas com nyah, sabe que é requisito básico de garotas gato, né?"

¬ PAU NO SEU CYBER CU!

Ao notar que ainda precionava o botão, o soltei rapidamente. Voltando a xingar e rezando para que a pequena não notasse.

Quatorze permanece apontando a arma para Kitty. Não por pretender matá-la mas por um reflexo natural perante àquele tipo de situação. Lentamente solta seu tronco que antes prendia firmemente com seu braço livre e ergue seu punho fechado como um sinal para que os atiradores cessem fogo temporariamente. 

— "Isa". — Ele começa, evitando olhar a Okro. — Você é uma Gluyugak* , nunca se esqueça disso. É triste saber que perdemos até mesmo nossos irmãos para os alienígenas. Eu perdi até mesmo o meu próprio nome.

Nesse momento, dentro da instalação, o Okro atingido e ferido por Heylel olha o ciborgue em fúria. Silenciosamente, aproxima-se dos armamentos que estão próximos a si e prepara outro rifle. Está disposto a revidar o disparo e aproveitar da distração criada pelo líder, ignorando totalmente sua ordem.

— Eu e os outros membros da Gutaro lutamos guiados pelo fervor do orgulho de nossa raça. Até mesmo falar seu idioma fere meus princípios. — Ele dá uma pausa enquanto lentamente abaixa a arma apontada para a cabeça de Kitty. — Mas o amor que tenho pelo meu próprio povo me impede de cruzar essa barreira. Podemos negociar a saída destes prisioneiros, mas jamais se esqueça que você esteve entre o sonho de uma metrópole para sua família e os interesses dos alienígenas que você sequer compreende. Está sendo usada, e chegando ao ponto de atrapalhar seus irmãos.

Ele agora cede à situação e deixa a guarda aberta, decepcionado com a garota que há pouco relatava como a Gutaro pretendia ascender os Okros para um maior posto. Já do lado de dentro da prisão, na torre atrás de Heylel, centenas de pessoas se reúnem atraídos pelo barulho dos tiros. Alguns esperançosos de que possa ser uma liberdade geral, outros apenas curiosos. Dentre essa multidão encontram-se figuras que puderam conhecer como Porco, que carrega o Porquin no topo de sua careca, e Nakir, que mais aproveita para tomar algumas moedas dos distraídos do que observar de fato a ação. 

Ao mesmo tempo, o atirador mira furtivamente em Heylel e prepara-se para disparar.** 

Spoiler:

*"Isa"? Então aquele era o nome real de Kitty? Bem, não era ela que havia o dito aquilo então não devia a esta seu próprio nome verdadeiro, só que bem, aquele nome era bem mais simples do que imaginou, se é que não era um apelido para algo maior e praticamente impronunciável. Abaixou suas mãos ao ver que aquele líder praticamente desarmava a todos incluindo a si mesmo para então fazer um certo discurso onde Heylel aproveitou a brecha, aquele parecia ser o momento certo para aquilo*

-Okro, você está errado! *Falou em tom de voz alto, aquele era um dos raros momentos que falava daquela forma, afinal, isso sempre ficava para seu parceiro Cody e seu jeito eloquente mesmo sendo uma maquina, para Heylel restava apenas a parte braçal, só que naquele momento, quem sabe, o androide estava certo, a diplomacia poderia mudar o mundo no lugar da força*

-Eu admito que não sou bom com as palavras, não possuo carisma algum e tão pouco sou um diplomata, eu sou apenas um guerreiro, alguém que luta por algo que acredita assim como você e seu povo, assim como Kitty e os demais que me acompanham, então assim como vocês, nós também temos um sonho. *A fala do albino ecoava, então mesmo aqueles atrás de si conseguiam ouvir o que ele dizia e pela proximidade e formato da torre, o ecoo seguia pela torre deixando tudo bem audível, claro, seria melhor usando algum instrumento para isso, mas não possuía essa regalia no momento, então tinha que ser rustico como tudo ali*

-Nós da Reconquista sonhamos com a liberdade, não a minha, não a sua, mas sim a nossa! Sejamos Okros ou Kroyvisianos, ou qualquer outra raça que agora está aqui em aqui e agora, nos da Reconquista acreditamos na liberdade de todos, acreditamos que todo mundo deve ter direito a ter sua própria crença ser ficar para trás, que todo o povo tem direito a fazerem suas escolhas, sejam elas coletivas, sejam elas individuais, se vocês Okros querem evoluir sua raça, que evoluam! Mas caso não queiram, que fiquem onde estão, ninguém é obrigado a passar por situações das quais não deseja para si ou sua família! *Naquele momento, o rebelde segurava firme o parapeito, aquela frase foi forte para si mesmo já que estava passando por aquilo, uma situação que não queria para si nem para sua familia, principalmente para a criança que segue ali tão perto necessitada de sua proteção, e por isso, seu tom intensificou*

-Nós da Reconquista passamos dias e noites lutando contra o monopólio da Aliança e suas ações que escravizam povos e deixam outros reclusos, isolados por meramente acreditarem em algum deus ou deusa, a liberdade é um direito que vem junto ao da vida, um deve ser estritamente vinculado ao outro, ninguém nasceu para ser um escravo ou refém! *Ergueu a cabeça e a voz olhando para 14 estando de cima, no topo daquela torre, era possível sentir de Heylel sua essência mistica que não intimidava ou encorajava, mas exalava sua determinação em forma de pesar naqueles que a sentiam, não era nada demais, mas era perceptível*

-Vocês da Gutaro sequestram famílias e as escravizam sem da-las a chance de se defenderem, de terem voz, o que isso os diferencia da Aliança, do que ela fez com vocês? Olho por olho? Dente por dente? Quem oprimiu seu povo foram os Aliados, não nós! Se vocês querem construir uma metrópole, terem orgulho de sua raça e de sua liberdade, nós também queremos! Nós também lutamos por orgulho a nossa causa, por amor a nossos irmãos, nos queremos igualar as raças, os povos, pois para nós da Reconquista somos todos irmãos, parte de uma mesma família, ninguém fica para trás! Então se é desejo de vocês se libertarem, se é o sonho de vocês alcançarem a gloria de terem sua própria metrópole e assim em diante, esse também é o nosso desejo PORQUE SOMOS IRMÃOS! SOMOS FAMÍLIA! *Levou a manga até o rosto limpando o sangue que ainda estava ali, infelizmente sua diversão havia acabado, não seria hoje que iria matar individuos para aliviar a pressão em seu interior, todavia, ao menos podia fazer algo útil da vida, algo que realmente, quem sabe? Fariam pessoas terem uma vida e destino melhor*

-E como tal, queremos sempre o melhor uns para os outros assim como vocês Okros também querem, nós da Reconquista e vocês da Gutaro não somos inimigos, ambos queremos reconquistar a liberdade de nosso povo e exalta-lo, mas nós lutamos por todos pois para nós todos são iguais e isso inclui vocês, então que tal em vez de nos matarmos, de apontar armas uns para os outros, nós não nos aliamos? Se querem construir seu sonho, nós temos as peças e as mãos de obra para torna-lo real! Se querem libertar seu povo, nós temos as armas e a disposição para liberta-los também! Vocês só precisam aceitar que nós somos como vocês, a unica coisa que muda são nossa língua mãe e pele, mas todos nós, em cada detalhe, em cada objetivo, somos iguais. *Suspirou pesadamente, havia perdido o folego, realmente aquilo era uma missão para Cody, ainda bem que já havia exposto sua fraqueza em não ser uma especie de martir, mestre das palavras que convenceria a todos, mas pelo menos, pelos menos... Os faria refletir*

-Isa não está os atrapalhando, ela não está contra seus irmãos, pois para ela, tanto nós quanto vocês somos irmãos, mas e vocês? Aceitarão seus irmãos de pele fina ou precisamos ter cascos e placas para lutarmos ao lado de vocês? E caso ainda duvide de minha palavra, eu garanto minha vida a você! *Falou de punho fechado ao qual foi ao peito demonstrando honra, aquele era um tipico gesto que firmava uma promessa, a mão serrada frente o coração que se enche de coração para não fugir da luta do qual se dispôs a seguir até o fim*

Miyano manteve o olhar sério, apesar de aliviado pela isca ter servido como distração, afinal, aqueles dois tiros provavelmente seriam descarregados em Heylel se não fosse pelo improviso da criança.

Mas, não muito tempo, sua expressão séria tornou-se um misto de surpresa e confusão com o pedido de rendição de Heylel. Miyano podia até ser uma criança inteligente, mas teve dificuldades de entender o que se passava na cabeça do albino. Julgou não valer a pena ir além, e, de qualquer forma, Miya não queria lutar.

Escutou calado o discurso comunista de Heylel, notando pelo canto dos olhos o Okro que tentava atirar no albino. Quase que sem pensar a respeito, pegou a pistola e mirou na mão que ele usava para empunhar a arma, tentando inutilizá-la antes que ele tivesse a chance de puxar o gatilho. Não queria feri-lo ou matá-lo, mas também preferia não arriscar que Heylel fosse ainda mais ferido.

Antes que tivesse tempo de se preocupar com o tiro, recebeu uma mensagem de voz através da ENE. Uma voz que não reconhecia fazia bastante tempo.

- Mel?! - Exclamou, confuso, mas logo sendo novamente trazido para a situação presente pelas consequências das ações de todos ali.

*Em silêncio e continuando a meditar para recuperar sua energia novamente, a mestiça podia ouvir cada palavra de Heylel, erguendo um pouco a cabeça e o fitando atentamente, prestando atenção no discurso que o albino fazia aos Okros e conseguindo até sentir a determinação e a verdade por trás de tudo que ele defendia, porque no fundo, era exatamente isso que a Zathriana também queria, principalmente se envolvesse a liberdade das pessoas.
Na mente da mesma só vinham os vários momentos em que tinha sido rejeitada e excluída, e o quanto não a deixavam ser ela mesma, como sempre tinha que ter cuidado com o que dizia, como agia, como pensava, tentando sempre se enturmar ou trazer orgulho para os que a rodeavam, na esperança de mostrar que era uma pessoa boa e que também queria ser ouvida, e levada em consideração.
Suspirava e murmurava mais para ela mesma, sabendo que na certa seu murmúrio seria ignorado mas sinceramente não se importava.*

- Eu entendo... só queria ser aceita também...

*Ela sorria pensando naquilo, e pela primeira vez começava a entender o motivo que o pai havia tido de se aliar à reconquista, tentando ver as coisas pelo ponto de vista dele e da mãe, além das outras pessoas que lutavam da maneira que Heylel destacava, como sua antiga equipe fizera antes junto com ela. Apesar do discurso e das palavras de Heylel, Ellora tinha sido muito bem preparada e treinada, e por esse motivo não se permitia abaixar a guarda, especialmente se estivesse com quem considerava importante e queria proteger, como Miyano e Heylel. Por esse motivo, ela deixava a arma preparada, continuando escondida mas pronta para atirar caso fosse necessário.*

Suspirei de alívio ou ouvir a voz de Miya. Mas um sorriso triste logo se formou em meus lábios ao lembrar que eu não podia dizer quem era. Encarei a Torre, esperando que ela não estivesse no meio da confusão.

¬ Err... Isso! Querida, diga-me onde está? Eu vim te buscar. Maya está com você?

Enquanto falava, andei pela nave até a parte de suprimentos e quase pulei ao ver que tinha café. Fui preparando uma xícara reforçada, pois senti que ia precisar.