Cuidando dos negócios.

A Terra, planeta natal dos humanos, foi recentemente descoberta pelo restante da galáxia. Sua abundância de recursos chamou a atenção da Aliança, é claro. Com um acordo assinado com a enorme organização, a tecnologia tem avançado cada dia mais, transformando seus países e cidades em pólos tecnológicos. Mas isso não fez com que todos os humanos apoiassem o acordo, muito pelo contrário. Desde então uma resistência se formou, composta inteiramente por humanos que atacam o governo por ser imoral e não ter coragem de se impor diante da Aliança.

E é em Detroit que a sede da resistência é localizada atualmente, apesar de existirem outras bases espalhadas pelo planeta, localizada estrategicamente para não ser encontrada por pessoas que não pertencem à organização. A cidade também tornou-se muito mais tecnológica nas últimas décadas, sendo agora preenchida por prédios altíssimos e com arquitetura moderna, geralmente comerciais. Com a tecnologia, entretanto, Detroit se tornou ainda mais poluída e afeta ainda cada vez mais a qualidade de vida de seus moradores. Ainda assim, o lugar tem uma vida noturna bastante ativa e cheia de opções, além do comércio de variados eletrônicos de ponta.

A tarde é parcialmente nublada e ameaça chuva, mas o clima quente se mantém com uma média de 25ºC. É verão, e os transeuntes que atravessam a rua próxima ao balcão parecem aproveitar para usar roupas mais leves. Além disso, como a maior parte do tráfego agora acontece em vias específicas que ficam acima do solo, o fluxo é mais fluído e constante.

Subitamente, a porta se abre. Se trata de um homem grisalho de meia idade, com um porte físico ainda atlético. Apesar do caminhar casual, seus olhos demonstram preocupação conforme ele caminha até o balcão aonde Christopher está.

— Boa tarde, garoto. — Ele diz, com os mesmos olhos apreensivos conforme vasculha a estabelecimento com os olhos. — Eu vim para ver suas peças. Preciso de ajuda com aquele projeto.

Sua fala estranha é justificada quando ele discretamente puxa um aparelho digital de seu bolso e o segura a frente do peito, disfarçando o ato conforme se apoia na bancada. Se trata de um slide show, e a primeira página diz:

Citação :

Há um informante, pode estar nos espionando agora. Disfarce.

Com o abrir da porta, o sino que ficava próximo da beira foi remexido, fazendo um "ding dong" que atentaram o rapaz ao novo cliente. Deu uma última olhada na pagina que estava seu livro para checa-la mais tarde e em seguida fechou. Endireitou-se no balcão e sorriu suavemente, transparecendo alguma cordialidade.

— Seja bem vindo e fique à vontade. — Foram as palavras ditas logo antes do boa tarde e do pedido.

Imaginava que fosse um cliente comum, mas ao perceber aquela expressão corporal retraída ficou com o pé atrás. Os receios apenas se confirmaram quando viu o primeiro slide no aparelho. Apesar de nunca ter visto aquela figura antes, não quis compromete-lo, então manteve-se frio e sem alterações na expressão.
A Hemero estava entre a barra da calça e sua lombar, então não se sentia exatamente indefeso. Uma das mãos desceu do balcão, ficando fora da visão do velho enquanto a outra arredava o livro e gesticulava junto as falas.

— Ah, claro! — Exclamou logo em seguida das palavras. — Poderia refrescar minha memória? Ando muito cansado ultimamente.

Esfregou a cabeça usando a mão que ficara exposta, tentando bancar o bobo. Na sequência, a voz mudou levemente de tom. Caso o velho estivesse realmente apreensivo poderia sentir a diferença.

— Só peço que seja claro, ou podemos nos desentender.

Era complicado manter-se neutro, usava toda sua força de vontade para não ficar olhando para as janelas procurando alguma figura suspeita lá fora.

Os olhos do homem seguiram os de Christopher até o lado de fora até que ele entendeu a intenção do rapaz. Nesse momento desvencilhou-se um pouco do foco e sinalizou que não com a cabeça, dessa vez com os olhos fixados nos do mais novo.

— Não é nada do que está pensando, parceiro. É aquele projeto pra galera de Chicago e funciona de uma maneira mais indireta, sabe? — Ele murmura enquanto volta a olhar para os cantos da loja. Em um movimento rápido para arrumar o cabelo, ele aproveita para retirar um cordão debaixo da camisa e revelar um pingente icosaédrico. — Provavelmente já está aqui dentro

Lentamente ele abaixa sua mão e deixa no balcão um pequeno objeto, conhecido na época por ser um cofre portátil. Ele tem uma senha de quatro dígitos e um tamanho médio, suficiente para caber algo do tamanho de uma pistola ou de um celular grande.

— Eu deixei tudo aqui e a senha é algo filosófico que tem a ver com nós dois, você vai se lembrar. Mas agora preciso ir porque "minha esposa" deve estar me procurando. — Ele faz questão de levantar as sobrancelhas quando se refere a esposa. — E vou te contar, não quero nem um pouco que ela me encontre.

Tudo mudou quando o jovem mecânico viu o pingente, inclusive sua expressão que ficou mais receptiva. A única coisa que quase deixara-o realmente preocupado foi a ideia de já ter algo ou alguém ali dentro. Não fazia ideia do que ele estava falando.
O cofre portátil não ficou muito tempo em cima do balcão já que em seguida foi pego e posto na parte de trás do suporte de madeira, mas sempre com movimentos naturais e disfarçados.
Com um sorriso, Chris balançou a cabeça assertivamente.

— Que ótimo, você trouxe a planta do projeto. Pode deixar que eu me lembro da senha. — Debruçando-se um pouco sobre o balcão, encarou-o de volta no fundo dos olhos. — Mas mudando um pouco de assunto... sabe, homens se ajudam, posso te ajudar caso sua esposa esteja sendo muito chata.

Ficava óbvia a disposição do rapaz para auxiliar o mais velho no momento que o reconheceu como semelhante.

O velho, já em meio a caminhada para sair do recinto, olha para Christopher por cima de seu ombro. Seu semblante, ainda que preocupado, carrega um singelo sorriso sincero.

— Não se preocupe. Se eu precisar de ajuda com ela vou te ligar, mas você também deveria tomar cuidado com ela. É uma velha muito chata que vêm atormentando toda a vizinhança, sabe? — São suas últimas palavras antes de deixar o estabelecimento.

Christopher está novamente sozinho, agora com o pequeno cofre que tem um tamanho um pouco maior do que sua mão. Diante de si uma senha de 4 dígitos que não ficou muito clara através da conversa, além da dúvida de que pode estar sendo espionado nesse exato momento.

Assentiu para o velho logo antes dele sair. Ao menos deixou claro que poderia ajuda-lo caso precisasse, por isso estava de consciência limpa.
Já sozinho na oficina, manteve-se neutro, fingindo que estava tudo nos conformes. Pegou seu livrinho e voltou a ler, permanecendo dessa forma até as 18 horas, o horário padrão de fechamento do seu estabelecimento.

— Whaa! — Bocejou, largando sua leitura já terminada em cima do balcão. — Mais um dia que acaba.

No dado horário, foi até a porta da frente, desceu uma manta metálica presa pela parte de dentro e em seguida trancou a porta. Foi até as janelas e fechou cada uma com grades e persianas, em seguida ligando as luzes artificiais da oficina. Suas ações eram completamente naturais, a final fazia isso no final de cada expediente.
Por fim, olhou a volta e falou, vidrado na sujeira.

— Acho que vou tirar um tempinho para limpar esse lugar hoje.

Obviamente isso era apenas uma desculpa para procurar qualquer um ou qualquer coisa sem levantar suspeitas. Colocou seus óculos que estavam em cima da cabeça, pegou a vassoura e saiu arrastando sujeira pela oficina ao mesmo tempo que corria os olhos por todos os lugares possíveis durante a limpeza. Após minutos de procura conseguiu achar um buraco estranho na parede.

— Um onahole?

Falou em tom de brincadeira para si mesmo. Vendo que ali tinha uma câmera, segurou-se para não demonstrar a satisfação por encontrar o que procurava. Mimetizou uma expressão chocada e usou uma chave de fenda para tira-la de lá sem quebrar.

— Será que é alguma admiradora? Bizarro.

Ao mesmo tempo que falava bobagens para tentar parecer um idiota, ao conseguir retira-la da parede analisava seu modelo, pensando se conseguiria rastrear o receptor das imagens através dela.

Por mais que esteja tudo fechado dentro da oficina, Christopher pode constantemente sentir-se observado. Quando enfim encontra a câmera, como um perito em tecnologia e dispositivos, ele pode perceber que sua lente se fecha - o que indica que foi remotamente desligada. No entanto, ele tem apenas um pequeno vislumbre de seu formato antes que ela se exploda na palma de sua mão.

A explosão não é grave já que a câmera é diminuta, mas pode deixar um pequeno machucado na mão do engenheiro. Caso verifique, Christopher notará que aquilo comprometeu totalmente o mecanismo interno do aparelho que dá acesso a memória e às gravações.

Entretanto, há uma informação muito importante que ele pode retirar dos restos daquele item, algo que ele apenas saberia por trabalhar com tecnologia terrestre: o dispositivo têm origem alienígena.

Ressonante a explosão, houve também o grito de frustração do rapaz.

— Ô MERDA!

Deixou que os pedaços caíssem no chão e balançou ambas as mãos freneticamente, em seguida correu até o canto direito da oficina juntando as palmas numa prensa metálica fria para absorção do calor fazendo uso da condutividade térmica.

— Tenho palpites de onde aquela câmera me levaria, mas agora está perdida. — Murmurou, ainda esperando que o calor das mãos dissipasse. — Provavelmente vou ter que relatar isso na próxima reunião.

Após alguns segundos retirou as mãos da superfície metálica e pôde notar uma bolha superficial na mão esquerda e um ou outro corte na direita, nada que fosse de fato inutiliza-las.
Voltou para trás do balcão, pegou o cofre portátil e sentou no chão, acreditando ficar longe de qualquer olhar curioso que pudesse persegui-lo.

>>>Algo filosófico que tem a ver com nós?<<<

A primeira tentativa de abrir o cofre foi 7427.

O pequeno cofre permanece com sua imponência e mistério, uma vez que nem mesmo a senha deste foi dita. Trata-se de um modelo um pouco antigo mas ainda utilizável, geralmente usado para guardar pequenos pertences de valor durante uma viagem.

Quando Christopher interage com este, o dispositivo revela um teclado holográfico em HUD que conta com letras e números, mas sem nenhum tipo de caractere especial ou opção para letras minúsculas. Quando ele digita a senha, porém, este teclado brilha em vermelho e uma pequena tela digital no cofre exibe a mensagem:

Citação :

Senha incorreta. Tentativas restantes: 2.

Suspirou junto à mensagem de falha. Tinha mais algumas ideias do que poderia ser, mas com número de tentativas limitados não quis arriscar por em risco o conteúdo. Além de que o remente deveria ter noção que poderia haver uma tentativa de hacking por sua parte caso não adivinhasse a senha.
Largando o cofre no chão, levantou-se e foi até um de seus armários, pegou dois imãs e voltou para trás do balcão, sentando-se no chão novamente. Sua ideia era muito simples, usar o campo magnético para gerar um campo elétrico e causar uma interferência destrutiva nos emissores de onda do cofre.

— Bem... É melhor do que errar mais duas tentativas e outra coisa explodir em mim.

Após murmurar, começou a mexer os imãs em direções opostas na tentativa de destravar o cofre até conseguir.

Sendo um modelo simples de uso convencional, o cofre não é dotado de uma grande resistência ou segurança. Sendo assim, Christopher é capaz de usar o cérebro para abri-lo sem necessariamente arriscar-se com a senha, ainda que fosse uma solução que uma pessoa comum e sem conhecimento raramente teria a capacidade de encontrar.

Dentro do dispositivo há um único item, simples e ao mesmo tempo curioso. Christopher talvez nem mesmo o reconheça por ter sido criado em meados do século XXIII, ou talvez sua experiência montando e desmontando dispositivos o tenham feito topar com um daqueles. De qualquer maneira, conhecendo o item ou não, a surpresa seria inevitável.

Trata-se de um walkie-talkie. Velho, sujo e bem gasto.

Realmente aquilo era um equipamento um pouco estranho para o rapaz que, ainda que tivesse experiência com tecnologias mais antigas, nunca trombou exatamente com um walkie talkie. Largou os imãs e pegou o conteúdo. A primeira vista não pôde deixar de pensar que aquilo era um rádio sintonizado para receber transmissão de ondas piratas, a final conhecia tal item e aquilo era bem parecido.

— Talvez ele queira que eu ouça algo.

Tentava ligar aquilo, mas sem mexer nos número para não mudar a recepção.

A primeira coisa que Christopher obtém quando liga o aparelho é algo bastante estranho de se presenciar numa época com tecnologias de comunicações tão avançadas: um chiado alto e extremamente irritante.

apenas alguns segundos depois, algumas palavras se tornaram audíveis. É visível que duas pessoas conversam e param exatamente quando o chiado cessa, compreendendo que agora poderiam se comunicar com quem estivesse na linha. Um bipe é ouvido, assinalando que alguém apertou o botão para transmitir voz.

— Você deve ser o Christopher. — Diz uma mulher, com um sotaque característico de uma latina, mas fluente. — O meu nome é Olivia, e eu represento a resistência no Novo México. Nós estamos enfrentando problemas e precisamos saber se Detroit está pronta para ajudar.

Aquele barulho era estranhíssimo, quase como se tentasse usar uma antiga televisão sem recepção de sinal. Até começou a cogitar digitar outra estação para ver se obtinha sinais, mas logo suas suspeitas se concretizaram quando ouviu a voz feminina saindo dali.
Sorriu, cruzou as pernas e pegou o "radio" com ambas as mãos, atento a tudo que ouvia para poder entender.

— A resistência do Novo México? Ela parece esperar uma resposta... Talvez seja possível me comunicar.

De todos os botões no walkie talkie, o único que parecia não estar ligado com encerramento ou mudança de "estação" era o lateral. Primeiro Chris deu um apertãozinho para ver o resultado e quando apertou percebeu que o chiado parou.

— Alô, Olivia? Está me ouvindo? — Falava, mas sem estar com o botão pressionado, logo ela não escutaria nada. — Como eu uso essa merda?

Esperou alguns segundos e não obteve respostas então voltou a tentar, mas desta vez pressionando o botão no momento que falava.

— Olivia, está me escutando? Não sei usar esse troço.

A voz parecia frustrada por estar apanhando para algo que deveria dominar.

— Perdão querido, também estou me acostumando. — ela responde após alguns instantes. Sua voz é doce e carrega uma pitada de sensualidade. — Acontece que esse é um canal seguro. Apenas nós terráqueos temos acesso a essa tecnologia, e além disso ela é primitiva demais para as autoridades checarem.

Agora com menos formalidade, é possível identificar alguns elementos da personalidade daquela mexicana. Além da entonação picante com a qual fala, ela parece divertir-se como se fosse uma casual conversa, não tratando aquilo com a seriedade ou gravidade que talvez devesse.

— Mas a questão, meu amor, é que as coisas não vão nada bem por aqui. Assim como você, nós usamos um estabelecimento comercial como fachada para encontros e arrecadação de dinheiro para a nossa causa. O problema é que parecem ter descoberto isso, e estão agindo de maneira inteligente e imparável. Só aqui no México, quatro comércios foram fechados devido a aquisição hostil ou concorrência predatória.

Acabou mantendo o dedo pressionado no botão de fala, então perdeu as primeiras palavras que foram ditas. Ao menos, a partir daí, percebeu como funcionava o tal walkie talkie, ainda que superficialmente.
Conseguiu ouvir a parte em que se justificava o uso do equipamento, então assentiu com a cabeça como quem dizia: "faz sentido". No fim das contas já estava captando o objetivo do contato.

— Eu lamento ouvir isso, companheira, mas o que sugere que façamos? Não podemos simplesmente aparecer num gabinete federal e falar para pararem de atacar nossa política monetária. — Deu uma breve pausa na fala. — Bem, até poderíamos, mas iriam rir da nossa cara e provavelmente achar um motivo para nos prender, já que parecem saber o que estamos fazendo. Hoje mesmo encontrei uma câmera com tecnologia alienígena na minha oficina, então tenho que descobrir quem é o filho da puta me espionando.

— Ah, mas é aí que você entra, corazón. — Ela se diverte com a palavra. Não a usou por desconhecer um sinônimo em inglês mas sim para dar uma singela cantada no homem do outro lado da linha. — Têm esse homem chamado Kwame Jafari, um africano que têm uma empresa aí no seu país. Ele quem moveu absolutamente todos os processos contra bases da nossa resistência.

Ela dá uma pequena pausa com o walkie talkie, mas não desliga o botão que a permite falar. Sons indicam que ela mexe em uma gaveta e vasculha alguns papeis e documentos até finalmente retornar para a linha.

— Quando tentei agendar uma visita por e-mail, ele pediu por você em particular. — Ela abaixa o tom dessa vez. Pela primeira vez desde o início da conversa, parece estar realmente séria. — Escuta, eu acho que isso é muito maior do que parece e pode significar uma grande queda da nossa luta se continuar desse jeito. Têm pessoas que eu sempre confiei e que não sei mais se posso confiar. Só estou pedindo que fale com esse homem e tente arrancar alguma coisa dele.

A forma com que ela aliterava as palavras somada a voz provocativa fizeram, por um segundo, Chris esboçar um sorriso constrangido e balançar a cabeça em negação. Foi algo bem passageiro graças a notícia seguinte.
Fechou o cenho levemente, estalou o pescoço e recostou a cabeça no balcão, deixando o walkie talkie próximo do peito enquanto terminava de ouvir tudo.

— Jafari? Peixe grande. — Falou para si mesmo sem pressionar o botão. Em seguida colocou o equipamento próximo do maxilar para só então transmitir sua voz ao fim da declaração alheia. — Esse cara é problema, inclusive explicaria a câmera que estava aqui. De qualquer forma, irei me encontrar com ele. Que tipo de homem eu seria se deixasse em apuros uma dama que dedica sua vida a lutar contra a tirania do governo?

A frase foi seguida de uma risada, ainda sem soltar o botão de fala. Era óbvio que, se estivesse em seu alcance, ajudaria uma irmã com problemas. Sem contar que poderia perguntar da espionagem.

— Não se preocupe, mamacita, a única queda que haverá será a da bastilha. — Desta vez a provocação virou para o outro lado, principalmente com a palavra em espanhol. A bastilha era uma alusão a revolução francesa. — Depois de entrar em contato, talvez convoque uma reunião mundial para tentarmos resolver o problema dos traidores, mas tudo dependerá do que ele vai me dizer.

Novamente após a frase deu uma breve pausa e suspirou, desta vez pensando no pior.

— Caso fique sabendo que alguma coisa aconteceu comigo neste encontro, aponte Kwame como culpado e faça com que ele pague. Não podemos deixar que outras pessoas, por mais que sejam poderosas, interfiram na nossa causa e saiam impunes. Não fale para mais ninguém sobre esse contato com ele, vamos reduzir o contingente de pessoas com informações importantes.

— Oh, eu não tive o prazer de te conhecer ainda mas me parece muito bravo. — Ela permanece alternando entre a sensualidade e o tom sério, traço forte de sua personalidade. — Muito bem, me diga os resultados através desse mesmo canal. Estarei aguardando para marcar uma reunião não só de nossa resistência mas também entre eu e você.

Agora que Christopher confirma sua disposição a cuidar do caso, ela digita algo em um aparelho enquanto deixa o walkie talkie preso entre a bochecha e o ombro. Sente-se quase que uma secretária, o que é estranho depois de passar tanto tempo no controle das coisas.

— Eu vou ajudá-lo como posso e tentar te arranjar um transporte para amanhã. E, por favor, tome cuidado. Sei que agora pode não parecer muito mas é a primeira vez que nossa ordem toma uma proporção tão grande a ponto de atrair pessoas ligadas a economia universal.

— Olha só, que atencioso da sua parte se preocupar com minha locomoção. Farei bom uso da sua gentileza, obrigado.

Transparecia realmente gratidão no tom da voz grave.
Sabia dos problemas que poderiam vir com Kwame interferindo nos negócios, mas sabia também que ele não gostaria de ter uma legião de inimigos, então planejava usar a razão em seu favor.

—Não precisa se preocupar. Tudo vai dar certo, então pode considerar nossa reunião marcada. — Exalava confiança na voz, ao menos o suficiente para tentar tranquiliza-la quanto a situação. Durante a conversa já pensava no longo prazo, então teria que explorar um pouco a jovem mexicana. — Além do transporte preciso de outro favor bem simples: avise a comitiva de Jafari que vou até lá amanhã, não tenho número de contato e não quero ser barrado. Agora vou desligar, preciso descansar e passar uma pomada na mão. Tenha uma boa noite, Olivia.

— Não se preocupe, vou cuidar de tudo para você. Tenho muitos contatos aí no seu país e posso me certificar de que você só tenha que cuidar da conversa. — Ela diz enquanto mantém-se ocupada ao digitar. — Besos, corazón. Vou esperar por notícias boas.

Talvez pelo tom importante da conversa, o tempo não parece ter passado tanto quanto realmente passou. O plenilúnio já domina a noite, e a muitos comércios já está fechado na rua de Christopher. Mesmo com a cidade se mantendo constantemente ativa, é visível que seu ritmo já diminuiu.

A caça por Jafari não é fácil. Christopher sabe que é um homem influente que ascendeu socialmente do nada, e hoje é dono de um dos maiores patrimônios da Terra. Sua empresa, Ohini, têm alto investimento tanto humano quanto alienígena, uma vez que ela propõe soluções inteligentes para terraformação e controle de atmosfera, coisas essenciais para a colonização que agora se faz tão necessária.

Pode ser que Christopher esteja acordado ou não, mas alguém bate a porta de seu estabelecimento de forma apressada e impaciente às seis da manhã. Acontece que Olívia enviou uma nave de acordo com o seu fuso horário, que é uma hora adiantado em relação ao americano. Para o piloto furioso já é horário comercial, mas para muitos americanos não é.

Por ser verão, o sol já nasceu e marca presença forte nas janelas entreabertas de Detroit. Um ar úmido denuncia que houve chuva durante a noite, e isso poderia prejudicar o caminho se a mexicana não tivesse tratado de enviar um piloto militar que têm a autorização para voar na atmosfera.