Bom dia, #7104.

Miyano sentou-se na cadeira do vice-comandante, bem ao lado de Melroa, abraçando as próprias pernas enquanto encarava o painel. Não fez questão de responder à contestação da mulher, apenas encarando o monitor.

- Tente pesquisar por A.G.N.A.K como palavra chave. - Sugeriu, logo focando-se no comando de Melroa. - Certo, eu posso tentar...

A maior parte dos resultados vem em forma de sites de notícia que relatam a transmissão realizada dias atrás pela entidade. Muitos teorizam sua identidade e alguns temem o que sua ameaça significa, perguntando-se por quanto tempo ela permanecerá pacífica.

Nenhuma declaração oficial com exceção da convocação da S.H.A.D.O.W foi publicada. Uma estudiosa do ramo científico, porém, respondeu sobre o caso em uma entrevista. Celes e Miyano, porém, têm perspectivas diferentes sobre o texto.

Celes escreveu:

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Miyano escreveu:

O Projeto A.G.N.A.K é controverso, uma aberração científica. Eu estudei os rumores sobre sua origem alguns anos atrás, e o que encontrei me obrigou a viver no anonimato em troca da minha vida. Não me lembro de ser o nome de uma organização, mas se seus líderes forem os mesmos que chefiaram o projeto, estamos com problemas.

Fechei algumas abas após a conclusão da transferência de dinheiro, que tinha sido um sucesso. Então me juntei à Miyano, filtrando as infornaçoes em silêncio. Quando veio aquele... idioma estranho. Num estalo me lembrei do que Burnes tinha dito e como eu não tinha entendido nada. Suspirei, fechando os olhos.

"Senha: ****. Sinto que esses símbolos tem algum dedo seu. Está bloqueando informações, Khan?"

Bati com um pé no chão, sentindo-me frustrada.

"Isso não é justo! Achei que fosse me ajudar. E eu tenho o direito de seguir pelo caminho que eu quiser! Não deve manipular as pessoas assim. Meu progresso já está sendo lento, ocultar informações de mim não ajuda em nada. Com meu irmão e a aliança querendo meu pescoço, você não deveria ocultar nada de mim."

Engoli aquele sentimento a contra gosto para evitar maia fadiga. Discutir com ele era inútil.

"Não vou te chamar disso, você precisa de um nome."

Rangi os dentes com força para fazer minha gengiva latejar de dor. Senti meus olhos sede tem por trás das pálpebras, mas mantive minha boca fechada. Infelizmente minha mente não era algo fácil de dominar. Então os questionamentos guardados no meu interior, os que tranquei o maia fundo que podia pra continuar lutando, vazaram.

"Por que eu? Se já cumpriu seu propósito comigo, por que ainda está aqui? Por que não procura outra pessoa e me deixa em paz? Você não está honrando sua parte do acordo se só me ajuda quando te convém."

Nenhuma resposta, como sempre. Eu já deveria saber que terminaria daquele jeito, mas o sentimento de frustração e desolação ainda estavam lá. Senti meu corpo murchar na cadeira a medida que abria os olhos.

"Não importa o que diga, eu não tenho mais controle das minhas ações. Você diz que vê coisas que não posso ver. Pois digo o mesmo. Você limita e determina o que devo fazer e por onde devo seguir. Como pode estar curioso? Você deve ter uma noção de como isso tudo vai terminar. Eu só não queria morrer imersa em ignorância novamente."

Abri uma aba separada, correndo os arquivos de ENE para ver se conseguia juntar as informações contidas nele e ver algo que deixei passar. Também separei o comentário anônimo, arquivado-o na I.A.

Leu em silêncio, encarando Melroa para ver se ela havia encontrado algo, mas a mulher pareceu olhar fixamente para a tela por um longo, longo período.

Aproximou-se do rosto dela, tocando levemente seu ombro para chamar sua atenção.

- Mel, você está bem? - A expressão da criança parecia preocupada, um misto de insegurança e medo. Melroa estava estranha desde que retornara, por isso Miyano temia que um dia... deixaria de ser ela mesmo definitivamente. - Ainda está com dor de cabeça? Não deveria forçar a visão, você não está dormindo o suficiente, talvez piore sua saúde. ENE, não, Hana, poderia ler os resultados relevantes em voz alta?

Eu não notei que estava suando até sentir a mão gelada de Miyano em meu ombro nu. Virei para olha-lo com a boca entreaberta, uma fala que eu não sabia qual era. Apenas suspirei, levando a mão até a testa. ㅡ Tem razão, vou deixar no piloto automático, logo devemos sair de Gradopolis. Se algo acontecer me chame. Mas Miyano, antes disso, preciso te falar algo. Eu não posso mais ajudar com o projeto A.G.N.A.K. Não consciente do que estou fazendo, por isso deve procurar sozinho, se precisar de algo, me use e não me fale para o quê é. Quando eu acordar te explico tudo... se eu conseguir.

Balancei a cabeça, ouvindo apenas ruídos enquanto a I.A lia os relatos. Apontei para meu ouvido e olhos. ㅡ Não consigo ver e nem ouvir nada disso. Eu vou dormir só um pouco... Eu já venho. ㅡ E me levantei da cadeira, com certa dificuldade. Segui caminhando até meu quarto, franzindo a testa para o que o administrador dizia.

"Que bom que meu desespero e desgraça te proporcionam interesse e diversão. Você cumpriu nosso acordo? Apagou as memorias de burnes sobre mim e Miyano? E eu já sei o que quero que retire da SIDA. Todos os planos da genocídio em massa, tudo o que tiver de mais podre e, claro, que eu puder ter acesso e não atrapalhe sua função. É vago, eu sei, mas não deve ser difícil. Vou me concentrar em derrubar a aliança por hora."

Continuei andando, chegando no meu quarto e encarando a bagunça de roupas e equipamentos. Encarei uma mala intocada no canto do comodo. Segui pelo lado oposto, indo até uma sacola e pegando um pacote dentro dela. Lembrei do olhar de medo de Miyano, e ele estava se tornando mais frequente. Deixei meu corpo cair sentado na cama enquanto desequipava a armadura, escudo e suit. Amarrei os fios azuis num rabo de cavalo e encarei a caixa de tintura de cabelo no meu colo. ㅡ Vai ficar uma merda.

Os lábios de Miyano curvaram-se em uma linha fina e hesitante, ainda mantendo o mesmo olhar preocupado sobre Melroa. Toda aquela conversa, tudo o que havia acontecido... Melroa estava estranha, muito estranha, e mesmo seus pedidos eram... absurdos. Ela parecia cada vez mais desenhar uma linha entre si e Miyano, e sabia que a criança não ultrapassaria essa linha imaginária.

- Vai... ficar tudo bem. - Falou, apesar de não deixar claro se a frase foi para Melroa ou para si mesmo. - Não precisa se preocupar comigo, eu consigo fazer isso sozinho. De qualquer forma, sempre foi um problema meu, eu não tenho o direito de exigir nada dos outros.

Afundou as costas na cadeira, fechando os olhos e respirando fundo. Ainda tinha Maya para se preocupar, por isso questionava se estava fazendo a escolha certa a priorizar os pais à irmã.

Em poucos minutos eu estava com a mistura na cabeça e sentada na cama, com as pernas cruzadas. Pensava no pedido de Khan, ou Administrador como ele preferia, mas quanto mais eu pensava, mais absurdo ficava.

"Você está me pedindo para matar meu irmão. Sabe o quão insensível está sendo, não sabe? Realmente não possui nenhum sentimento?"

Apos ver que já tinha dado o tempo da tintura agir, fui até o banheiro, retirando o roupão que usava e indo enxaguar o cabelo.

"Mesmo que eu concorde com isso, como que eu; uma nerd sem habilidade física alguma, posso matar um soldado especial da aliança? Eu sinto que você está é me empurrando para um abismo sem fundo cada vez mais. E o que quis dizer com 'trarei-a até o lugar onde você acordou futuramente'?"

Ao terminar, sai do banheiro, colocando novamente o roupão e indo pegar minhas minha roupas. Eu não reagi da forma como pensei que reagiria. Estava analisando a situação de forma tão fria que eu não me senti eu mesma. Mas empurrei a sensação para o mais longe possível.

Depois de poucas horas eu estava equipa do minha armadura novamente. Vestia um macacão preto colado ao corpo e botas de cano médio.

" Tem razão. O que eu devo pegar exatamente? Ou você planeja que eu o mate e leve até você também? Estou formando um exército ou coisa assim?"

Peguei um casaco com capuz e coloquei o lenço no pescoço, pronto para ocultar parte do rosto. Ao olhar no espelho a imagem de assemelhava muito a Melroa. Mas eu não era mais ela, e nem a perdida e desesperada Celes. Agora eu tinha controle das mibhas ações. Ou quase isso. Fui andando até a ponte, parando no meio do caminho só pra pegar os drones.

ㅡ Miyano, você consegue modificar esses drones? Use um de modo que eu consiga usa-lo como explosivo. Vamos para Vumihe Boik, vamos pegar a Maya de volta.

Minha mão foi ate um dos bolsos do meu cinto, onde um saquinho com pimenta vermelha estava guardado.

Miyano encarou a nova aparência de Melroa, sem palavras. A reação dele havia sido tão ilegível que não dava para saber se ele estava admirado ou surpreso, praticamente sem reação.

Engoliu saliva, não externalizando nenhum de seus pensamentos enquanto deslizava os olhos pelos drones, parecendo ponderar por um longo momento.

- Eu não sei. Talvez? - Falou com sinceridade, arqueando a sobrancelha conforme encarava o instrumento. - Eu precisaria analisar a estrutura e as peças, além do material que eu precisaria para modificar.

Observei novamente sua reação, ficando em silêncio. Suspirei e me sentei na poltrona, pegando uma mecha de cabelo. ㅡ Achei que fosse ficar mais a vontade se eu voltasse a me parecer mais como Melroa. E também seria um grande choque pra Maya se ela acordasse e visse uma estranha de cabelo azul... E tem algumas peças dos brinquedos da casa de Burnes na minha bolsa, veja se consegue usar algo.

Bufei, mexendo nos controles de forma apenas para distrair a cabeça. ㅡ Miyano, eu tenho evitado falar disso, pois é algo muito pessoal. Mas chegou num ponto onde não podemos seguir sem que saiba disso. E pode te ajudar na pesquisa do projeto... Quando eu sumi alguns dias atrás, fui morta. Eu te contei isso. Mas alguma coisa precisou me trazer de volta, certo? Se não eu não estaria aqui. Essa coisa invadiu meu corpo e assume o controle dele sem que eu possa fazer algo. Por isso tenho os lapsos de memoria. Porque não sou eu mexendo meu corpo. Por isso não posso te ajudar com o projeto. Ele bloqueia qualquer informação, seja minha visão ou audição, se ele desejar eu não sinto nada. A verdade é que esse corpo não é mais meu, e se ele me deixar eu volto ao estado que ele me encontrou.

'Morta.' Não quis terminar a frase, afinal a conversa já estava bem explicita. Torci o nariz para as informações de Khan, mas não reclamei.

"Pescoço, certo. Eu vou atrai-lo até Vumihe Boik. Preciso pegar Maya de volta e quem sabe eu não consiga chutar sem querer o traseiro do Bastião no meio da confusão. E bem, do jeito que fala eu posso concluir que não tem ligação amigável com a Aliança. O que é curioso porque isso obrigatoriamente nos coloca no mesmo lado e mesmo assim você não parece confiar em mim."

Tossi para disfarçar minha surpresa com o fato de Vumihe estar sendo rastreada.

"E por que não me contou isso antes?! Maya está em Vumihe, correndo perigo! E tem inocentes lá. Poderia ter me avisado..."

Suspirei, encostando o corpo na cadeira enquanto guiava a nave para Vumihe, dessa vez com mais urgência.

"Bom, não estou surpresa por isso. Você não esbanja simpatia mesmo, Khan. Como ficou sabendo disso tudo?"

Pensei no momento em que enviei a mensagem, dizendo pra Mora sobre o perigo de ser rastreada. Eu devia ter insistido mais. Puxei o lenço do pescoço para cobrir a boca e o capuz da roupa para tampar o rosto. Agora Mora estava morta. Nem mesmo presenciaria a morte de seus soldados e a invasão de sua base.

"Não, você concordou com isso. Por que eu faria isso com um ser que controla meu corpo quando quer? É burrice. Mas pois bem, eu também tenho muito trabalho pra fazer em pouco tempo. Pode ir."

E com isso abri novas abas no painel, incluindo o canal de comunicação com meu irmão. Tinha muito mais mensagens minhas do que dele. Uma completa idiota ignorante que fazia o trabalho de espiã. Rangi os dentes e comecei a digitar uma mensagem.

"Hoeu Kadalm, você é mesmo um irmão frio. Nem mesmo veio para o enterro de sua irmã, estou desapontado. Mas não surpreso, confesso. A Aliança treina muito bem seus soldados especiais, mas para minha sorte a Melroa não era uma de vocês. Foi mais fácil do que eu pensei ser, mas não funcionou tão bem. Por isso recorro ao plano B: contato direto. Espero que não se importe de pegar emprestado o canal de comunicação de vocês dois. Eu perguntaria para ela, mas acho que é um pouco tarde para isso. Você também se importaria de adiantar um pouco sua invasão a Vumihe? Tenho pressa."

Na outra aba, acessei o canal da reconquista.

"Avisando a todos os soldados: A segurança de Vumihe foi comprometida. A aliança está enviando tropas especiais para o local. Quem tiver puder prestar seu auxilio, o faça. Toda ajuda é bem vinda. Viva a reconquista!"

A criança mordeu os lábios enquanto ouvia as palavras de Melroa. Na verdade, no fundo, Miyano já sabia disso. Poderia ser uma criança, mas sua capacidade de raciocínio lógico eram anormais para a idade. Apenas não queria... admitir isso. Pensar positivamente e ser otimista sempre foi a decisão preferida dos gêmeos. Agora, desacordada, Maya vivia uma fantasia e Miyano tinha seu mundo fantasioso destruído pela necessidade de encarar a realidade.

Se nem Melroa tinha alguma esperança quanto ao próprio estado, Miya não tinha mais forças para sustentar essa fantasia, e esso foi a rachadura final para quebrar qualquer ilusão da criança de que Melroa voltasse a ser Melroa. Aguardou que a mulher terminasse aquela mensagem, buscando não atrapalhá-la. Quando a ligação cessou, Miya prosseguiu, com um tom calmo, apesar do olhar desolado.

- Mel, você não me deve explicações, não se sinta forçada a isso. Eu sempre te aceitarei, então não se desculpe pelas ações tomadas por ele, isso não é sua culpa.

E aproximou-se dela, gentilmente tocando a face da mulher.

- Você está viva, e isso é o suficiente para mim.