Protegendo o território.

Passam-se horas de viagem até que Frederick e Ale'ek avistem Phax, seu destino. Cada vez mais próximos do planeta, já é possível notar suas particularidades de cima, como confirmações da descrição anteriormente feita por Buck ao lhes dar a missão. Como sabem, Phax já foi lar dos Zathrianos, mas hoje se resume a vilarejos onde a vida é bastante precária, com recursos naturais escassos, até mesmo da água, o que se torna ainda mais problemático devido ao clima muito quente, alcançando altíssimas temperaturas.

Os nativos já o abandonaram há algum tempo e hoje ele é uma colônia dos garesianos apenas, mas nem por isso tornou-se mais organizado. Muito pelo contrário, e o mais próximo de uma grande capital que possuem é o maior de seus vilarejos, nada luxuoso por si só. Shinar é formado por sucatas deixadas pelos antigos moradores do planeta, os Zathrianos, e lá são abrigadas pessoas falidas, sem condições de uma vida melhor em outro planeta, ou simplesmente já nasceram ali. É uma cidade sem lei, com a criminalidade alta e mercadorias ilegais em abundância.

Já próximos ao local indicado por Buck como o posto avançado que deveriam verificar, eles podem pousar a nave com tranquilidade. Além disso, próximo ao destino dos homens, há uma multidão aglomerada. Assim que pousarem a nave, entretanto, um homem humano se revela e caminha na direção dos mesmos para abordá-los. Ele usa um uniforme da Aliança e parece ter trinta e poucos anos.

— Opa, e aí companheiros? — Cumprimenta, analisando-os. — O que fazem aqui, há alguma novidade da qual não fui informado? Já achava que esse planeta tinha caído em esquecimento total... Vocês vieram nos oferecer reforços? — Questiona, aguardando uma explicação.

O soldado constantemente olha ao redor para observar a movimentação dos civis. É manhã em Shinar e a movimentação já é grande, com barracas de pequenos produtos saqueados dos desertos e comércios ambulantes de bugigangas qualquer. Nada porém parece ter boa qualidade.

Algumas fêmeas das raças mais exóticas recostam-se perto de uma construção de madeira, lançando olhares maliciosos para os dois soldados que acabam de chegar. A julgar por suas roupas, estão vendendo o próprio corpo.

O caos de uma terra sem lei é claro para os dois companheiros que acabam de sair de uma grande metrópole. O homem diante de ambos claramente mantém-se atento também.

— Eu cuido de algumas coisas por aqui, meu nome é Stefano. O que vieram fazer?

Frederick estava lendo sobre o local antes de pousar e havia sentido familiaridade com o local. Lembrava em algumas características sua terra natal, a Serra Leoa.
Era um lugar também precário desta forma e tão quente quanto, imaginava. Ele até agradeceu à Deus que aquele lugar conseguiu evoluir.

Antes de sair da nave ele retirou seu casaco, mas manteve-o em seus braços. Estava agora somente com a segunda pele, também escura, o que podia enganar olhares confusos.

Ficava ao fundo ouvindo a conversa, olhando à sua volta para verificar qualquer coisa que estivesse acontecendo.

O humano conta com um bigode charmoso e parece simpático. Num tom divertido, aproxima-se dos dois e bate continência com um largo sorriso no rosto. Dessa vez, parece abrir-se bem mais para os visitantes do que de imediato.

— Ótimo! É bom saber que vocês são amigos mesmo; não sabem com quantos traiçoeiros eu tive que lidar nos últimos tempos. Trabalhar aqui é um inferno, eu te digo! — Ele fala de maneira um pouco acelerada. Frederick, como terráqueo, pode perceber um leve sotaque italiano. — Mas sim, sim, estou a par da situação. 

Conforme conversa, caminha em direção à cidade. Ao mesmo tempo, transeuntes olham para o pequeno grupo com certo desgosto, talvez por seus uniformes.

— Tenho algo melhor do que notícias - uma nave para levá-los até lá. E quanto a você, senhor, qual o seu nome? — Ele indaga enquanto dá um leve olhar para o leonês por trás do ombro.

As garotas para quem Ale'ek retribui o olhar tentam seduzi-lo de alguma maneira. Uma delas até mesmo se aproxima e oferece-o um cartão.

— Sou o Cabo Frederick Jafari, senhor — dizia ele, em resposta imediata.

Olhavam em volta perceptivo à tudo, não sabia o que esperar, fazia tempos que não ia em uma missão e pode ser que mudanças tiveram ocorrido.

— Ahm... bom, foi isso mesmo que você disse. Os vândalos, ah os vândalos! Me dão o maior problema por aqui. E então, qual abordagem o senhor acha que seja ideal? — Ele pergunta com animação, mantendo sempre o tom simpática.

Frederick, atento, pode perceber que a garota que entregou a Ale'ek o cartão usou a mão livre para surrupiar a Colt Python que os dois recentemente compraram. Habilidosamente, ela agora procura as sombras para se ocultar.

— Aliás, quem os enviou para a missão? Conheço um pessoal por todo canto. Já passei em cada cantinho dessa galáxia!

— Capitão, sua meretriz acabou de retirar a sua Cold Python do seu bolso sem você notar... — dizia ele, tranquilamente.

Já que era a Cold Python dele, manteve-se atento por onde a puta iria, mas não iria direto atrás. Pensou em avisar pois achava que ele tinha que aprender a se cuidar e não ser promíscuo em missões oficiais.

A prostituta parece tentar ser ágil, mas não contava com a atenção de Frederick. Achava que os dois soldados estavam distraídos o suficientes afinal, mas dessa vez teria que contar com a própria velocidade. O momento poderia ter sido épico se ela não se desesperasse com o flagrante e tropeçasse na beira de um beco, caindo de cara no chão.

—Ai, desculpa, porra! — Ela exclama, constrangida com a falha enquanto volta-se para seu perseguidor. Como última tentativa, tenta jogar um charme mesmo com o nariz sangrando. — É que eu tava louca pra pegar na sua pistola, amor...

Frederick, mais atrás, pode acompanhar a situação. Caso olhe ao redor, porém, Stefano já não está ali. Ele partiu enquanto o leonês observava a perseguição, juntamente com seu dispositivo comumente usado para realizar transações financeiras. Os civis ao redor parecem levar o ocorrido como algo corriqueiro, e alguns até os olham com desprezo pela inocência.

Frederick soltava leves risadas da situação. Era realmente cômico que o capitão havia sido pego em um truque tão simples.

— Ei, capitão, calma lá. É só uma meretriz precisando sobreviver. Veja o estado que está esse planeta, pega leve. Hahaha! — ele ria, como um bom amigo riria das atrapalhadas do outro.

No entanto, quando voltou a olhar para o lado percebeu que o italiano não estava mais ali.

— Capitão, senhor... O moço sumiu.

Um alto gemido de dor é ouvido, e imediatamente todos olham para o local. Por mais que a malandragem e a caça de recompensas seja comum em Shinar, tiroteios públicos como aquele não são. Brigas de rua e mercado negro são o limite da civilização decadente, mas a justiça com as próprias mãos ainda é abominada mesmo que não ajam leis na terra desértica.

Não há ninguém para prestar socorro à prostituta. As pessoas escondem-se em seus barracos ou atrás das construções de madeirite, buscando refúgio contra o soldado violento. Já a ladra, nada pode fazer se não agonizar sozinha.

— Filho da puta... — Ela resmunga entre um gemido e outro. — Você se sente muito foda, né? Shinar vai engolir você.

Subitamente, um breve flash vindo do horizonte. Caso procurem, os soldados não encontraram nada além do sol escaldante.

— Maldições são coisa séria, Capitão... — dizia o homem após se recuperar de um súbito ódio contra seu superior.

Havia tentado, obviamente, salvar a moça. Contudo, quando notou o que iria acontecer, não teve tempo para reagir, apenas pôde ver a garota que tenta apenas sobreviver sendo subjugada por um homem de muito mais influência e poder.
Era uma clara amostra de poder desnecessária. Queria mostrar, seja por ego, orgulho ou qualquer outro pecado, que era capaz e iria punir quem tentasse lhe ferir.
Isto apenas fez com que Frederick ficasse com 10 pés atrás para/com seu capitão. Não confiava mais nele.

— Para nosso corpo se sujar, tudo começa com nossos pés — continuava o negro a falar como um bom homem tradicional. Acreditava em mandingas e tudo isto que os deuses ou Deus poderia entregar. Certamente a frase "você colhe o que planta" definia o pensamento do negro, já que sempre tentou ajudar os outros para poder se sentir no direito de pedir ajuda — É bom tentar repor os danos contra o seu karma...

Sua voz carregava claro descontentamento, mesmo que também trouxesse humildade ao tentar ajudar o seu capitão do jeito que conseguia.

— Se temos a coordenada, é melhor irmos. Pelo jeito, não há ninguém com força armada além de, provavelmente, do nosso alvo. Vá na frente, eu cuido da cobertura — dizia ele, terminando ao retirar a sua Cold Python.

Estava atento ainda mais ao locais à sua volta pela situação do capitão, sabia que não poderia confiar e que provavelmente quem diria que é algo, provavelmente não o é.
Deixava o dedo perto do gatilho (mas não nele) e apontado para baixo. Caso algum suspeito possuísse uma arma, iria atirar.

O caminho, apesar de difícil pelas constantes tempestades de areia, não é longo. Após aproximadamente uma hora de caminhada, os dois soldados vêem-se distantes da pequena cidadela formada por sucata e materiais fracos e deparam-se com uma estrutura construída a base de um veículo de uso típico da Aliança - uma pequena nave de uso apenas interplanetário.

Outros materiais jogados e pequenas estruturas estão enterrados na areia - a maior parte destruídos e com buracos de bala. Dentro da nave há sangue mas não há corpos. O máximo que os dois podem encontrar são documentos e registros em forma de pequenos tablets quase que descartáveis.

Em meio ao deserto aparentemente vazio, outro flash como aquele que viram depois do tiro que Ale'ek deu na ladra. Dessa vez, porém, Frederick podem encontrar sua origem: uma pessoa com um traje camuflado que segura uma câmera antiga.

Ele entrava no local calmamente, dessa vez seguindo direções diferente do seu capitão enquanto mantinha a pistola à sua frente no estilo Weaver.
Após ver os dispositivos, tentou dar algumas dedadas neles pra ver se por sorte acertava a senha. Obviamente não tendo êxito, olhou para o homem da câmera e falou, com quase toda a certeza do mundo:

— Temos um fã, capitão.

— Consigo, senhor. Mas, tenho uma ideia. Na hora que eu correr, atire perto do chão, para ele se assustar. Se tivermos êxito, ao menos ele derruba a câmera e podemos ver o que ele estava tirando foto — disse ele, guardando sua Cold Python.

Após ter uma confirmação de aceno com a cabeça com seu capitão, correu em instantes com o máximo de velocidade que conseguia naquele momento reunir por causa da areia.
Esperava muito chegar perto dele e caso chegasse, iria se jogar em cima do homem. Caso ele não fosse muito mais alto, provavelmente iria ser derrubado e logo que derrubado, tentaria prendê-lo com golpes de imobilização.

Em pouco tempo ele escorreu nas areias finas do planeta desértico e deu de cara no chão.

— ELFE ESTFÁ LÁ! — apontou desesperado, enquanto comia areia ainda deitado no chão.

O espião assusta-se com a disparo e imediatamente inicia uma corrida pelas dunas. Com sua boa visão, Ale'ek pode ver que ele usa um dispositivo tecnológico durante sua fuga para ativar algum tipo de comando. Talvez a concentração necessária para tal o desacelere a ponto de permitir uma aproximação do capitão.

Frederick, mais atrás e agora sem precisar focar integralmente na perseguição, pode ver a aproximação silenciosa de uma nave que voa baixo poucos segundos após o comando digitado pelo fotógrafo desconhecido. Conforme ela aproxima, a altitude do voo diminui.

É visível que o espião não parece portar nenhuma arma, tampouco têm coragem para enfrentar qualquer um dos dois. Seu corpo franzino justifica sua alta velocidade e seu medo dos soldados.