Protegendo o território.

— Ficarei onde precisarem que eu fique. Mas, se é pra nos ajudarmos, temos que manter comunicação. Qual o melhor jeito? — perguntava ele, dando liderança ao velho que parecia gostar disto.

Conforme suas experiências passadas, via que não podia ficar brincando de "quem é o líder?". Algumas pessoas sentiam a necessidade de ser, Frederick também era uma delas.

— Cruzes menino, você precisa aprender a decidir as coisas sozinho. — Diz ele enquanto finalmente larga Frederick. — É você quem sabe o quanto quer se envolver com a gente. Se quiser ficar por aqui, vai conhecer o pessoal. Alguém te ajuda a se encontrar na nave, e fica atento que em meia hora vai ter a peça especial que os garotos prepararam. Ah, eu faço um fazendeiro batuta!

Conforme se afasta num riso, os outros milicianos também retornam a suas atividades. Pouco a pouco, habituaram-se com Frederick e veriam se ele os mudariam ou se ele mudaria o ambiente.

— Mas se quiser manter distância pessoal eu entendo. Posso pedir pra alguém te levar pra Shinar.

— Distância pessoal? Só se eu estivesse louco! Passei meses na prisão disciplinar, não estou afim de ficar sozinho com meus pensamentos novamente, haha! — ele dizia. Sabia que não podia usar a desculpa de "não escolho nada por mim por causa da minha patente", já que ele provavelmente diria que ali não há patente.

Mesmo assim, Frederick sabia da hierarquia, se não a iormashiana que nos encontrou teria falado com a gente sobre tudo. E não pedido ajuda para o Paizão. Com este pensamento, se lembrou que não sabia o nome dele e seria muito estranho ficar chamando-o de paizão.

— Ei, senhor, qual seu nome? Aliás, nem lembro se me apresentei direito.

— Heh, prisão disciplinar. É isso que aponto, menino, Aliança ou Reconquista - eles não tão nem aí pra proteger os outros. Não respeitam sua liberdade individual e te fazem de fantoche. — Ele afasta-se com o rifle em mãos enquanto volta a coordenar algumas coisas por ali. — A única organização que protege as pessoas de verdade é a...

— MILÍCIA DO POVO!

— É isso aí, pessoal. O meu nome é Sergei Serebryakov. Por causa disso, muitos preferem chamar só de Paizão! Hahahahaha. E você, menino?

Sem dizer nada, uma moça de cabelos curtos usando headphones velhos entrega um copo de água a Frederick e parte. Poucos segundos depois, um rapaz que cantarola uma música popular passa ao lado do leonês e dá um tapinha em sua bunda. O ambiente ali é bastante casual, e ninguém realmente se importa com se apresentar. Se faz parte do bando, é família.

— É, mais ou menos. Há abusos em todo lugar — dizia ele, logo em seguida às palavras do velho — Mas, no meu caso, foi por desaparecer mesmo sendo requisitado minha presença; longa história. Achei justo, no fim e foi bom para minha cabeça.

Frederick tinha muitas chances de soar ao velho como um simples soldado na sua lavagem cerebral. Mas, ele realmente achava aquilo. Havia sido criado em um ambiente militar e tinha pensamentos parecidos, desta forma, certas ações militares Frederick realmente apoiava.
Antes de continuar a falar, agradeceu pelo copo d'água e deu um gole, ficando com o resto do copo cheio em sua mão.

— Meu nome é Frederick Jafari M'Cormak, pode me chamar do que quiser, desde que não seja desrespeitoso — ele falava a sua última frase encarando àquele quem deu um tapa em sua bunda — Mas, tudo bem, Sergei, senhor. O que fazem por aqui? Pois, se não houver nada, irei pesquisar algumas coisas na SIDA.

— É um nome longo, provavelmente vai ser Fred. Você é realmente descendente de africano, hein? Fiz missões comunitárias lá na África quando servi ainda jovem. Lembro que haviam milícias, mas com interesses políticos. Dá pra entender suas opiniões, menino.

Ele dá um soquinho no peitoral de Frederick e dispara um sorriso singelo. Sergei ainda está curioso pra saber se a milícia vai transformar Frederick em um super-heroi ou se Frederick militarizará a milícia. De um jeito ou de outro, ele está ansioso para trabalhar com o leonês no dia seguinte.

— Nós esperamos problemas acontecerem. Tanto a Aliança quanto a Reconquista tem interesse aqui pela mão de obra quase gratuita, então ocorrências sãoo que não faltam. De vez em quando, se possível, vamos atrás de criminosos locais como aquele italiano que tapeou vocês. No tempo livre nós nos divertimos, então você está livre pra fazer o que bem entender.

— África é um bom lugar, mesmo. Por isso digo que vou mudar o pensamento de vocês, meu país é um exemplo — dizia ele, com um enorme sorriso amigável.

Depois de tudo aquilo, suas palavras não eram mais afrontas e sim dicas amigáveis que iam aumentar e, de acordo com Frederick, se tornar realidade.

— Okay, tudo bem, então, senhor. Ficarei aqui por perto pesquisando algumas coisas na SIDA. Qualquer coisa chama, obrigado — ele se despedia e ia sentar em um canto.

Pegou qualquer coisa que servisse de banco enquanto tomava seu copo d'água e ligava, pelo seu HUD cerebral, a SIDA. Procurava notícias sobre o seu irmão, caso já não tivesse sido encontrado. Se não encontrasse nada, iria procurar ele em câmeras, o que iria demorar mais.

— Olá, Frederick Jafari M'Cormack. Não detectei nenhum apelido carinhoso registrado, gostaria de fazer isso agora? — Começa a voz robótica em sua cabeça. — Meus sensores detectam que você perdeu uns kilinhos no tempo que ficou preso. Como se sente? Não posso ver mas tenho certeza que está lindo!

Apesar de ser a IA mais bem programada da galáxia e contar com um hardware feito com tecnologia de ponta, ela foi reprogramada pelos Garesianos para ser mais simpática. Eles acham que isso é necessário para os cérebros inferiores se sentirem melhor.

— Gostaria que eu lhe repassasse as informações que procura da minha maneira gentil e agradável ou quer que eu exiba-as em arquivos de texto?

"Uau" Pensou ele, logo que ouviu as primeiras frases "Eles instalaram uma versão mais amigável? Incrível!"

— Por favor, SIDA, recite-as pra mim com a voz de meu pai — dizia ele, aproveitando a situação. Sentia saudades de sua família e queria ouvir o seu pai, já que não seria possível — E, por favor, me chame de Frederick.

Ele não sabia se esta opção era possível, mas considerando a nova atualização, pensou que a SIDA podia modificar a voz conforme a memória do usuário. Principalmente se o usuário tivesse-a conectado em seu cérebro.

— Como quiser, "cabo Jafari". — Responde a IA na voz fraternal conhecida, porém ainda rígida. — A última notícia daquele trambiqueiro do seu irmão é a entrada no ramo de robótica. Ele comanda uma grande empresa em Washington e anunciou em uma entrevista que estará explorando a nova área visando o mercado competitivo de exploração e colonização de novos planetas.

Conforme a voz é reproduzida com uma precisão quase absoluta, imagens dessa entrevista são exibidas. É de fato Kwame, e julgando por suas vestimentas e estilo, ele parece estar bem mais rico do que a última vez que seu irmão o viu.

— Atenção, soldado! Meus sensores indicam que o lugar onde você está é muito quente. Deseja que eu te lembre de beber água a cada duas horas? Manter-se hidratado é essencial em ambientes como esse, garoto!

— O que? Robótica? Mas ele nunca foi tão esperto assim! — se espantava Frederick, aumentando seu tom.

Obviamente atraindo atenção pelo repentino grito, ele olhou em volta e balançou sua cabeça verticalmente, com a sua palma da mão aberta para eles. Tentava pedir desculpas apenas com gestos.
Depois, se recuperou e voltou à sua pesquisa.

— SIDA, me mostre a primeira localização ou evento que relacione com meu irmão após ele desaparecer.

— Seeeeeeeentido! A primeira localização do Kwame depois de seu tempo desaparecido foi em Kasna, a capital global do planeta dos Kroyvisianos. Ele foi apresentado por Daphyra Shalana, a proprietária de uma conhecida e influente empresa de softwares como seu novo sócio. — Em sua visão, uma imagem abre da tal proprietária. — Depois de pouco tempo ele fundou a própria empresa.

Aqueles ao redor parecem ajeitar-se para a peça de teatro citada por Sergei. Pessoas ajudam-se com figurino, texto e maquiagem. Por isso, poucos reparam no leonês que fala sozinho por imaginar que ele está ensaiando suas falas.

— Têm uma coisa que você vai querer saber. Em sua página oficial ele diz ser filho único.

Frederick apertava os punhos conforme as palavras de SIDA ecoavam em sua mente. O seu sentimento de nostalgia e alegria pela voz de seu pai mudou completamente pelas notícias que recebia. Se sentia traído, inútil e usado.
Era, de fato, incrível, sua capacidade de amar tanto a família, pois não conseguia sentir raiva de seu irmão, todos os sentimentos negativos eram centrados para si. Por um tempo, enquanto descansava sua mente após as notícias, chegou a pensar que tudo era sua culpa; que não se manteve presente o bastante; que não foi um irmão bom; que sua educação, inspirada em seu pai, não era uma boa ideia.
Uma, duas, três e até mais lágrimas desciam de seu olho, se sentia humilhado. Olhou à sua volta pensando, também por poucos segundos, que ali poderia ser seu lugar. Era um ambiente família, um ambiente em que ele certamente poderia passar seus conhecimentos, ajudar os necessitados e que todos iriam depender dele (benevolentemente).

Um soco abafado fora proferido contra o chão empoeirado. Seus olhos brilharam em diversas saturações de amarelo. Se houvesse alguém prestando atenção em Frederick, com certeza iria ter sua atenção chamada por estas ações.

— Pesquise por esta Daphyra Shalana, por favor — dizia sua voz soluçada. Havia algumas pausas entre palavras (e menos ainda durante elas) que mostravam o quão triste se encontrava o leonês.

Seus pensamentos estavam confusos, mas ele estava entre admitir sua fraqueza, mas nunca mais procurar o seu irmão e admitir sua fraqueza, mas procurar forças para achar o seu irmão e lhe dar um belo sermão. É obvio que para a segunda opção, teria que procurar muito mais forças, afinal, seu irmão teria construído um império. Não era mais apenas sua opinião que contava, o capitalismo fazia com que diversas opiniões tivessem que ser levadas em contas para reger uma empresa.
No fim, apenas esperou a descrição de Daphyra, queria entender o motivo disso. Não acreditava mais, mesmo depois de tanto pensamento que colaborasse com isso, que seu irmão era capaz disto. Sabia que havia entregado amor o bastante e sabia que recebia amor o bastante de seu irmão. Nunca foi odiado.
Para Frederick, nunca faria sentido, mesmo com uma tonelada de argumentos contras, que seu irmão o odiaria e o rejeitaria. Ele sabia que seu amor familiar era mútuo para todo seu sangue.

Nas filmagens mostradas de Kwame, é evidente de que ele já não é o mesmo. Com a postura de grande empresário, seu semblante mudou. O brilho no olhar e o sorriso de malandro que tinha antes já não estão presentes.

— Os Kroyvisianos costumam usar o nome da família mais influente antes do nome próprio, cabo! Sendo assim, Daphyra é uma casa influente no ramo de tecnologias em Kasna e Shalana faz parte da quinta geração dessa família. — Começa a voz sintética ao mesmo tempo que mostra o brasão dos Daphyra. — Ela é uma programadora, dona de uma empresa gigantesca em toda a galáxia. Muitos technophones de hoje suam seu sistema operacional. Ainda assim, suas relações são questionáveis e já se meteu em problemas por suposto envolvimento com o mercado negro. Ops, sem ofensas!

Os burburinhos ao redor aumentam a medida que o momento da peça se aproxima.

— Ela participará de um grande evento de tecnologia na sede de sua própria empresa dentro de três dias. Você pode comparecer caso queira contato direto.

— Não, obrigado. Agradeço a oferta, pai — dizia Frederick, instantaneamente. Depois de alguns segundos, percebeu o que havia feito e simplesmente riu.
Teria sorte se, por causa da peça, ninguém percebesse que ele estava ali, se não ia ser zoado até o fim de sua missão.

"Ai ai, eu sou um bobo mesmo" pensou ele, enquanto se levantava.

— SIDA, por favor, grave o evento de todas as câmeras disponíveis do evento e reúna as manchetes sobre o evento, quero todas as informações quando ele terminar. E por favor, me avise quando elas forem reunidas. Obrigado pelo serviço — e então desligou a SIDA.

Em seguida, viu que a peça estava sendo arrumada e ele foi até eles ajudar. Quando ela começasse, estaria sentado olhando-a.

— Foi um prazer ajudá-lo, Frederick. — Responde a inteligência artificial, dessa vez com a própria voz sintética em tom feminino. — Contate-me sempre que puder. E lembre-se de comer bastante proteínas para continuar forte e bonito.

Com a noite gélida do deserto que contrasta totalmente com o clima ensolarado habitual, uma grande lona é erguida para cobrir os destroços de nave no qual os milicianos se abrigam.

A peça é o mais idiota possível. Apesar de toda aquela preparação, há diversos defeitos técnicos e a atuação é completamente canastrona. Ainda assim, a família unida daquela milícia parece aproveitar e se divertir com o momento.

Ao lado de Frederick, senta-se Tan. É o Haytok que o abordou nas dunas mais cedo e parecia menos empolgado com toda aquela encenação do grupo. Por isso, identificou-se com o discurso do leonês.

— Ei. Você também acha isso tudo meio idiota, não é? Não acha que deveríamos estar treinando de verdade? — Ele indaga num sussurro.

Sua raça é movida por batalhas e têm a adrenalina constantemente correndo pelas veias. Sua inquietude e insatisfação tem motivo biológico ao invés daquele ideológico de Frederick.

— Idiota? Não. É bom pra saúde ser feliz. Mas, inútil? Com certeza — dizia ele, baixinho. Não queria atrair uma briga novamente, mas também nunca iria deixar de falar sua opinião verdadeira se ela fosse requerida.

— Você deve ter ouvido a discussão. Espero que pense parecido, pois se há você, pode haver outros iguais. Precisamos ajudar esse planeta, concorda? — ele não tirava os olhos da peça, mas continuava a falar, um pouco inclinado na direção do semi Haytok.

— Eu sinto muitos impulsos, muita adrenalina. Por mais que tente evitar, não dá. — Ele desabafa enquanto mantém os braços cruzados. — Tô aqui tentando usar essa energia dum jeito bom. Fazer alguma coisa pra alguém, sem sair quebrando tudo. Só que agora tô assistindo essa coisa ai.

Pareciam haver poucas pessoas que concordam com o posicionamento dos dois. Na baixa luz preparada para aquele espetáculo, todos visíveis parecem rir ao identificar pessoas que consideram da própria família passando por situações ridículas no palco. Certamente seria difícil transformá-los em soldados.

— Sim, eu concordo com você. Digo... temos mais ou menos quarenta a cinquenta pessoas, e Shinar tem milhares de pessoas. Têm que ter alguma coisa acontecendo agora, né? — Ele dá uma pausa, pensativo na medida que um Haytok pode ser. — Mas como que você quer fazer isso?

— Primeiro, preciso mostrar ao senhor Sergei que temos que aumentar o peso da disciplina. Concordo na diversão, mas desde que entrei só vejo sorrisos em uma causa que precisa ser séria. Acho que, para isso, preciso entender melhor o planeta. Só sei que, planos são complicados nesta situação — dizia ele, calmamente, sem tirar os olhos da peça.

Era realmente uma peça de piadas internas; cômica, obviamente, mas para Frederick, não havia muita graça, pois não havia piadas, só situações cômicas que outros riam por conhecer quem estava na situação.

— O que você acha disso, você conhece ele melhor? Aliás, sobre seus nervos. Gosto que você tenha controle deles, mas, é bom liberá-los em treinos. Podemos iniciar uma rotina de treino para inspirar os mais novos, eles gostam de coisas assim, haha!

Ele assente positivamente. Algo em sua consciência o incrimina por indiretamente conspirar contra Sergei ou a maneira que ele vê as coisas, mas talvez seja necessário.

— Sim, eu conheço bem o Paizão. E não fica achando que esse nome é só um apelido. Não, ele é quase que um pai pra todos nós aqui. — Ele reflete enquanto lembra-se de alguns momentos de quando era mais novo. Ainda é um adolescente e por isso as memórias estão frescas. — Eu e muitos outros viemos aqui ainda crianças. Ele deu um propósito e uma vida pra maioria que está aqui - especialmente da minha idade.

De fato, a maior parte das pessoas daquele grupo está numa idade entre adolescente e jovem adulto. Juntando com o fato de que a maioria dos residentes de Shinar são órfãos, faz sentido que precisem e adotem essa grande figura paterna.

— Eu não consigo liberar meus nervos. Não me lembro de Jannu, minha terra natal, e não fui criado por Haytoks. Não consigo atingir o estado de fúria perfeito da minha raça. Mas você... deve ter viajado a galáxia, não é? Talvez possa me ajudar.

— Posso te ajudar e com certeza tentarei — admitiu ele, antes de começar a se explicar — E sim, sei que não é um apelido. Eu notei isso quando entrei. Todos o admiram não por ser um líder, mas sim por ser um pai; venho do exército, sei como é a diferença clara entre essas admirações, haha! — ele tentava ser o máximo humilde e educado. Não queria ferir mais do que já havia ferido a consciência do semi Haytok.

— E eu concordo que ele faça isso. É bom que ele continue a dar motivo de vida para as pessoas do planeta, mas ele não pode ficar focando em recém nascidos. Uma criança é fácil de manter feliz, mas quando se trata de um adulto; sem querer ofender a ninguém; É complicado. É confuso por tudo o que penso em palavras, mas acho que é bom começarmos a focar em você e assim a gente se entende melhor, o que acha? Podemos marca- Aliás! Tenho uma ideia, vou conversar com Sergei depois da peça — e então, após muito falar, ele percebeu que havia dito muito em pouco tempo e pouco sentido — Ah, me desculpe... Falei demais, acho que estou empolgado com meu senso de justiça! HAHA!

A risada final pode cortar um pouco o barato da peça, pois foi mais alta que o normal.

Tan parece feliz em ouvir Frederick falar. Diante daquela situação, é como se Sergei fosse seu pai e Frederick fosse um irmão mais velho disposto a juntar-se a ele para colocar senso na cabeça dum velho meio caduco.

No planeta natal dos Haytok, não há uma família naquele modelo. A sociedade é dividida em clãs que disputam poder e não trocam afeto, apenas golpes em alguns treinamentos mútuos. Por causa disso, é comum que um exemplar dessa raça que foi privado dessa vida bárbara sinta-se apegado a conceitos familiares.

— Bom, depois da peça o pessoal provavelmente vai dormir. As noites aqui não são fáceis e o Paizão quer todos na cama cedo para não acontecerem incidentes. Vai ter que ser rápido. — Ele diz, enquanto finalmente dirige os olhos para o espetáculo. Ele parece encaminhar para seu final canastrão. — De qualquer jeito, valeu. É bom ter alguém que entende.

— Que nada, cara, pode contar comigo; haha! — ele falava, terminando a sua conversa.

Assim que a peça acabou, se levantou e ajudou todo mundo com o que fosse preciso arrumar ali. Se despediu do Haytok e foi em busca de Sergei.
Quando o encontrasse, iria dar dois toques em alguma parede que estivesse ali, apenas para avisar que estava ali.

— Com licença, senhor Sergei, tenho um pedido para lhe fazer.

— Seria o pedido um autógrafo?! — Ele exclama em um inglês de sotaque russo, evitando dessa vez o idioma universal ainda que muitas civilizações na Terra já tenham adotado o idioma universal como principal. — Vai me dizer que não foi divertido! Você está se divertindo que eu sei.

Ele parece levemente embriagado, mas controlado. Seu estado é de uma euforia moderada que combina com a rápida confraternização que acontece após o evento.

— Tudo bem, diga-me do que precisa mas não espere que eu vá fazer imediatamente. A noite é perigosa e quase todos estão indo dormir já.

— Haha... É divertido sim, é um bom lugar, não nego — dizia ele, um pouco constrangido. Não sabia lidar em ser divertido com pessoas que eram seus superiores. Contudo, sempre se esforçava para se manter amigo das pessoas em volta.

— Apenas quero dar uma ideia sobre aulas de capoeira. Conhece capoeira, senhor? — dizia ele, rapidamente notando que o russo poderia não ter um conhecimento de mundo muito grande.